“Irão cair questões de matemática”. Gelei. Não, não é pavor e muito menos trauma dessa matéria, considerada terror de dois entre três alunos, é... Não sei como explicar. Francamente, eu e a matemática nunca tivemos uma relação amistosa. Sempre houve desentendimentos, discussões acaloradas e ofensas mútuas.
A matemática, para mim, sempre foi aquela vizinha que mora na esquina: você sabe quem é, conhece um pouco e, quando a encontra por aí, só cumprimenta com um sorrisinho, sem mostrar os dentes porque isso é para os íntimos.
O que sei dela é o suficiente para viver, para passar e receber troca e também para planejamentos financeiros. Só. E nada mais. Na infância sim, eu não parava de pensar nela, forçado, é claro, pelas minhas autoridades. Pensava nos seus resultados e fórmulas. Obrigado, senão eu correria sérios riscos de repetir o ano escolar. E o que eu mais temia era passar o natal com caderno e lápis nas mãos.
Falando nisso, por causa dela fui duas vezes para a temida recuperação. Safei-me nas duas ocasiões, porque o medo de repetir foi um incentivo e tanto para eu dedicar um pouco mais de tempo para estudá-la. Anormal em dias tranqüilos.
A última vez que tivemos um contato mais próximo faz um tempinho. Foi no terceiro ano do ensino médio, pouco antes de eu entrar na faculdade. Foi um ano que a ignorei. Ela fez o mesmo. E no final, cada um foi para o seu canto.
Hoje, eu e a matemática temos uma relação cordial e seguimos fielmente a política da boa vizinhança. Cumprimentamos-nos através de sorrisos amarelos, e só nos falamos (rapidamente) quando eu preciso dela, ou seja, quase sempre. É duro admitir que isso aconteça com freqüência, fazer o quê. Mas, quando alguém se atreve a tirar alguma dúvida sobre ela, respondo firmemente: “a matemática nunca foi minha matéria preferida”. Felizmente, a pessoa não insiste. Melhor assim: ela lá e eu aqui.
Sempre tivemos um relacionamento cinzento.
(Luiz Guilherme Abril/2008)
(Luiz Guilherme Abril/2008)
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