quarta-feira, 2 de julho de 2008

Papo F!losóf!co

Narda Teles*

Ideologicamente com quem é o compromisso da imprensa?

A palavra ideologia, primordialmente, queria dizer ciência das idéias. Com o passar do tempo ela passou a ter várias significados, entre eles o de idéias de certos grupos sociais e políticos. Assim, ideologia não seria apenas um conjunto de idéias que elaboram uma compreensão da realidade, mas um conjunto de idéias que dissimulam essa realidade, porque mostram as coisas de forma apenas parcial ou distorcida em relação ao que realmente são. Nesse sentido, para Karl Marx, a ideologia buscaria ocultar e dissimular o domínio de uma classe sobre a outra. E a melhor maneira de difundir essas idéias são os meios de comunicação, que atualmente atingem a maior parte da humanidade. Dentre eles daremos destaque aos jornais.

Somos sabedores que os proprietários dos jornais pertencem a classe dominante ou dependem dela, sendo assim a linha editorial já está comprometida com seus interesses políticos e, é claro, comerciais. Na verdade é contraditório, porque o jornalismo é pautado pela imparcialidade, impessoalidade, ética, veracidade etc.; seria possível fazer jornais pautados nesses atributos sem influenciar o receptor com as idéias que interessam aos dominantes?

Alguns diriam que é possível sim, através do jornalismo informativo. Mas se avaliarmos melhor, veremos que este estilo jornalístico, que apenas dá a notícia nua e crua, pode ser um meio eficaz para difundir ideologias. É só informar o que foi selecionado pela editoria (seleção que determina o que o povo deve ou não saber) de forma que esta manipulação de informações venha favorecer a linha editorial do jornal. Neste estilo jornalístico os acontecimentos não são discutidos, e isto pode favorecer uma lógica montada para falsear em vez de esclarecer, esconder em vez de descobrir, ocultar em vez de revelar. Enquanto informam sobre uma onda de crimes nas metrópoles, não se pensa sobre os motivos que levaram uma geração à violência. A mente do povo fica ocupada apenas com a notícia imediata, que inspira idéias superficiais, provocadas muitas vezes pelo medo e em busca de soluções rápidas. É preciso ter cuidado, não apenas com o que consumimos como notícia, mas de que forma o fazemos.

Chegamos ao jornalismo opinativo, e é aqui que muitos podem tentar justificar; é este o estilo que tem como função levar à reflexão dos fatos. No entanto ele também pode ser usado para difundir influência de interesses particulares. Basta que o jornalista justifique suas idéias utilizando os seguintes traços gerais: Primeiro, elaborar um conjunto de valores destinados a prescrever, de antemão, os modos de pensar; é uma espécie de antecipação do que as pessoas deverão ou não pensar. Segundo, produzindo textos com a finalidade de fixar um consenso coletivo, um senso comum em torno de suas idéias. Terceiro, dando notícias a partir de lacunas, de saltos, de omissões; assim suas “verdades” parecem naturais e válidas para todos.

É lógico que um jornalismo como este não é sério, pois está voltado à interesses restritos e não do povo. Porém a nossa cidade está cheia deles. Como ser um jornalista ético dentro de um jornal comprometido com certos poderes? Isto é possível? Creio que é necessário para este profissional buscar sua autonomia com a consciência de que a influência é o motor da comunicação. É sua responsabilidade ser verdadeiro com o leitor; e acima de tudo ser um indivíduo pensante, para que ele próprio não seja manipulado e manipule os outros. Afinal a transformação de um povo sempre passou pelo processo da comunicação, ela pode ser para melhor ou pior. Qual dos dois escolheremos?
*professora de Filosofia, atriz e
diretora de teatro.

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