terça-feira, 30 de setembro de 2008

MINHA TERRA NÃO TEM MAIS PALMEIRAS

*Ellza Souza

Subindo uma rua do Conjunto Kissia no bairro D. Pedro, vi no final da mesma uma árvore solitária num montinho de terra recortada por um céu muito azul. A solidão daquela árvore num lugar onde até pouco tempo tinha uma área onde o verde da mata era exuberante, me deu uma sensação de fim de mundo. Aquela árvore ficou como um símbolo do que o homem é capaz de fazer com o meio ambiente. Ficou só. Tiraram seus galhos e a casca de seu tronco. Tiraram a possibilidade de muitos passarinhos fazerem suas casas nela e em todas que foram derrubadas. A esses bichinhos restaram os fios de alta tensão, frios, sem alma.

No bairro D. Pedro existem muitos conjuntos residenciais. Era um extenso terreno circundado por igarapés que refrescavam a terra. Grandes árvores frutíferas ou não se espalhavam no local. Mangueiras, abacateiros, laranjeiras, bambuzeiros. Os buritis que antes faziam lama na área não existem mais. Como sempre deixaram uma ou duas palmeirinhas sem forças que cansadas não dão mais frutos. Saboroso o suco de buriti cuja lembrança me remete à infância quando tive o prazer de tomá-lo com pão doce. Placas espalham-se anunciando o fim de toda a vegetação do bairro. Prédios e casas tomarão o seu lugar.

Não teremos mais a mata adornando o nosso bairro e descansando as nossas vistas. Quando o trator aparece a terra estremece. No lugar das inofensivas árvores e de seus habitantes vai ficar uma terra desprotegida e frágil. Porque o homem não pode conviver com o verde? Precisa arrancar suas entranhas, sua proteção? Porque não fazer um parque com o nome do dono do terreno e preservar as espécies nativas e plantar até mais. Porque esta aversão ao que temos de melhor que é a nossa mata? O mato não representa sujeira, esconderijo de bandido ou entrave para se morar bem.

Ao contrário representa qualidade de vida, pois nos protege, nos dá sombra e nos acalma nos momentos mais turbulentos de nossas vidas. E pede em troca apenas o silêncio, a observação, o respeito. Um bosque nessa área enriqueceria o cotidiano de todos. Os buritizeiros pedem socorro e as pessoas de bom senso também.

Após um tempo muito curto, passeando pelo conjunto Kissia, vi, com tristeza que a única árvore citada no início do texto acima, não existe mais. Ficou só o vazio, a solidão da natureza estampada sob o fundo azul do céu, que só não vem abaixo derrubado pelo homem porque suas garras não conseguem alcançá-lo. A vegetação que vai da avenida Darcy Vargas até o Kissia e a avenida Pedro Teixeira parece estar com os dias contados. Pelas placas que se espalham no meio das plantas, brevemente perderemos todo esse verde exuberante. As placas ameaçam. Estou com medo.

*Ellza Souza é jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Escritora e Roteirista.

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