*Ellza Souza
Pra que tanto igarapé? As autoridades que deveriam cuidar dessa terra ao longo desses 339 anos, devem ter feito muitas vezes essa pergunta. A resposta sempre foi: extinção de todos eles pois igarapé atrapalha o desenvolvimento da cidade. E pensa pra lá, pensa pra cá, foram secando, aterrando, poluindo e pasmem, acabaram com todos eles. Não eram poucos os límpidos igarapés que se entrecortavam no lugar onde cresceu a cidade de Manaus. A começar pelo Espírito Santo que ficava onde hoje é a Avenida Eduardo Ribeiro. Muito outros nessa área sumiram do nosso mapa. Até outro dia tinha um que circulava o Palácio Rio Negro na Avenida 7 de Setembro. Mesmo poluído eu gostava de ficar olhando para ele com aquelas águas tão negras e belas. E não fazia mal a ninguém. Nós é que fizemos a barbaridade de aterrar águas tão preciosas, transformando-as em barro, cimento, casas que mais parecem poleiros. Ninguém pensou em revitalizar o igarapé.
Todos os igarapés de Manaus ou estão profundamente poluídos ou não existem mais. Na cidade que era considerada um lugar onde todos os igarapés do mundo se encontravam, o ser humano teve a capacidade de destruir a todos. Mindú, do Chico, do Quarenta, do Franco, do Japiim, do São Raimundo, da Ponte da Bolívia. Por todo canto passava um desses pequenos rios que aliviava o nosso chão, as nossas árvores, o calor sufocante da região. Agora o que vemos é destruição, muito lixo e mau cheiro nos que restaram. E nenhum dos incontáveis governantes que tivemos ao longo desses mais de trezentos anos, teve alguma idéia brilhante que salvasse a humanidade, salvando esses igarapés.
Os habitantes da cidade têm sua parcela de culpa. Nunca fizeram uma manifestação para evitar que fossem aterrados e o que é pior foram construindo suas casas na beira deles e sem nenhum senso de preservação da natureza foram transformando-os em lixeira a céu aberto. Pronto, veio o poder público e sentenciou: vamos acabar com eles. E assim o fizeram ao longo do tempo desde o governador Eduardo Ribeiro até os de agora, numa seqüência inexorável de dar inveja a qualquer exterminador do futuro. É, parece que daqui a pouco só nos restará beber lama, já que água límpa por aqui está difícil. Tenho até medo das boas idéias que podem aparecer. A parceria do descaso é perfeita entre a população e o poder público. Parece que todos concordam que o crescimento de Manaus depende do fim dos igarapés, das árvores, dos animais... da vida humana. Ou será que o homem escapa à sua própria sanha de destruição e morte.
*Ellza Souza é jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Roteirista e escritora;
Pra que tanto igarapé? As autoridades que deveriam cuidar dessa terra ao longo desses 339 anos, devem ter feito muitas vezes essa pergunta. A resposta sempre foi: extinção de todos eles pois igarapé atrapalha o desenvolvimento da cidade. E pensa pra lá, pensa pra cá, foram secando, aterrando, poluindo e pasmem, acabaram com todos eles. Não eram poucos os límpidos igarapés que se entrecortavam no lugar onde cresceu a cidade de Manaus. A começar pelo Espírito Santo que ficava onde hoje é a Avenida Eduardo Ribeiro. Muito outros nessa área sumiram do nosso mapa. Até outro dia tinha um que circulava o Palácio Rio Negro na Avenida 7 de Setembro. Mesmo poluído eu gostava de ficar olhando para ele com aquelas águas tão negras e belas. E não fazia mal a ninguém. Nós é que fizemos a barbaridade de aterrar águas tão preciosas, transformando-as em barro, cimento, casas que mais parecem poleiros. Ninguém pensou em revitalizar o igarapé.
Todos os igarapés de Manaus ou estão profundamente poluídos ou não existem mais. Na cidade que era considerada um lugar onde todos os igarapés do mundo se encontravam, o ser humano teve a capacidade de destruir a todos. Mindú, do Chico, do Quarenta, do Franco, do Japiim, do São Raimundo, da Ponte da Bolívia. Por todo canto passava um desses pequenos rios que aliviava o nosso chão, as nossas árvores, o calor sufocante da região. Agora o que vemos é destruição, muito lixo e mau cheiro nos que restaram. E nenhum dos incontáveis governantes que tivemos ao longo desses mais de trezentos anos, teve alguma idéia brilhante que salvasse a humanidade, salvando esses igarapés.
Os habitantes da cidade têm sua parcela de culpa. Nunca fizeram uma manifestação para evitar que fossem aterrados e o que é pior foram construindo suas casas na beira deles e sem nenhum senso de preservação da natureza foram transformando-os em lixeira a céu aberto. Pronto, veio o poder público e sentenciou: vamos acabar com eles. E assim o fizeram ao longo do tempo desde o governador Eduardo Ribeiro até os de agora, numa seqüência inexorável de dar inveja a qualquer exterminador do futuro. É, parece que daqui a pouco só nos restará beber lama, já que água límpa por aqui está difícil. Tenho até medo das boas idéias que podem aparecer. A parceria do descaso é perfeita entre a população e o poder público. Parece que todos concordam que o crescimento de Manaus depende do fim dos igarapés, das árvores, dos animais... da vida humana. Ou será que o homem escapa à sua própria sanha de destruição e morte.
*Ellza Souza é jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Roteirista e escritora;
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