segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A casa do dentista

*Ellza Souza

"Depois do meio dia, escovava meus dentes e saia para o dentista que ficava no centro da cidade à avenida Epaminondas. Ficava a tarde toda esperando minha vez e sofrendo. Tinha uns doze pra 13 anos. Durante muito tempo segui essa rotina. Gostava da casa do dentista, uma casa ampla, clara e com pessoas atenciosas. Tinha medo do consultório apesar da fala mansa do doutor. Tinha um pavor danado de sentar em sua cadeira e abrir a boca para a broca. Um dia o dentista morreu e seu sobrinho passou a atender os seus clientes, inclusive eu. Passei ainda um bom tempo indo àquela casa tratar os dentes".

Hoje ao passar no ônibus pela avenida Epaminondas reconheci a casa que um dia foi bonita, clara e tinha um dentista amável. Não resta mais quase nada para contar uma historinha. Tudo está vindo abaixo, só resta a fachada para acabar de vez o lugar que apesar de assustador me traz hoje boas lembranças de dentes que não voltam mais.

Com o tempo, tudo caiu. Precisa deixar cair? Não tem como segurar a sua história? Como os dentes talvez seja uma questão de cuidado. A família do dentista não teve cuidado com sua história e eu não tive cuidado com os meus dentes.

*Ellza Souza é jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Roteirista e escritora;

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