sexta-feira, 21 de março de 2008

Cinema Brasileiro, sexo e palavrão

Por Tabajara Moreno


A idéia de que os filmes brasileiros resumem-se a sexo e palavrão é muito popular e contribui para a construção de uma imagem negativa do cinema nacional. Um fator co-responsável pelo desprestígio do cinema brasileiro. Nos filmes brasileiros, a inserção de palavrões e cenas de sexo é recorrente sim, tanto porque a erotização atrai parcela do público, quanto por questões culturais e comerciais. A televisão, a propaganda, a música, boa parcela dos produtos da indústria cultural apelam para a libido. A qualquer hora do dia ou da noite é possível escutar músicas com duplo sentido tratando de coelhinhos, periquitas e afins. A erotização está enraizada na cultura brasileira e sua exploração comercial é conseqüência de uma prática de mercado onde tudo é encarado como objeto de venda e consumo. A construção dessa imagem pejorativa da cinematografia nacional baseia-se, principalmente, na Pornochanchada.

Xuxa em Amor Estranho Amor (1982)

A Pornochanchada foi um movimento do cinema brasileiro inspirado nas chanchadas das antigas companhias cinematográficas paulistas, e em filmes pornô. A maior parte dos filmes foi produzido na região da Boca do Lixo, em São Paulo. Entre 1972 e 1982 cerca de 700 filmes foram finalizados. A Pornochanchada desenvolveu-se durante toda a década de 70 e foi muito lucrativa para os investidores sendo o mais próximo da industrialização que o cinema brasileiro viveu. O barateamento da produção e a grande bilheteria tornavam os filmes lucrativos. Devido ao baixo custo de produção, as cotas de patrocínio eram baixas e podiam ser compradas por pequenos comerciantes. A Pornochanchada lançou diversos nomes, mas poucos seguiram na carreira com a decadência do movimento, como as musas Sônia Braga, Lucélia Santos, Matilde Mastrangi, Aldine Muller e Vera Fisher, além da apresentadora de televisão Xuxa. A decadência da Pornochanchada está ligada ao processo de redemocratização do Brasil e esse fato gera discussões quanto a função alienadora dos filmes. Haja vista que o país vivia uma situação política delicada e o conteúdo das Pornochanchadas mantinha um distanciamento da questão político-social. Postura completamente oposta a dos cineastas do Cinema Novo, outro movimento da cinematografia brasileira.

Uma Câmera na mão, uma Idéia na Cabeça

O Cinema Novo acontece entre as décadas de 50 e 60 tendo como proposta um cinema com linguagem e temática engajadas politicamente. Os cineastas deste movimento sofrem influência do neo-realismo italiano e da nouvelle vague francesa. Do cinema italiano, a proposta de filmar nas ruas, com atores amadores, e retratando a realidade do pós-guerra europeu.
Enquanto o regime militar aumentava a repressão aos movimentos culturais, o Cinema Novo discutia as questões político-sociais brasileiras, a brasilidade, estabelecendo a estética da fome.

Os filmes foram veementemente censurados pelo regime sendo liberados para exibição no Brasil, apenas quando ganhavam prêmios internacionais, como aconteceu com 'Terra em Transe' de Glauber Rocha que ganhou o prêmio de crítica no Festival de Cannes e foi, posteriormente, liberado para exibição no Brasil.

Glauber Rocha

O Cinema Novo agrega Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Ruy Guerra, Cacá Diegues, Paulo César Saraceni e Walter Lima Jr.
A repressão militar eclipsou o movimento censurando os filmes. Além disso, a proposta de desvincular o cinema das questões comerciais fazia com que os cineastas não encontrassem produtores, dependendo das leis de incentivo à cultura do governo que o censurava. A utilização de uma linguagem experimental e a imagem de um cinema intelectualizado também colabora para o distanciamento do grande público do Cinema Novo.
O contraste entre a Pornochanchada e o Cinema Novo serve para desmistificar a idéia de que os filmes brasileiros se restringem a palavrões e cenas exaustivas de sexo. Há espaço para tudo e tem sido essa a preocupação dos cineastas contemporâneos. Fazer um cinema essencialmente brasileiro e diversificado.

Pesquisa: Giese Braun e Tabajara Moreno

Um comentário:

Raphael Alves disse...

"A idéia de que os filmes brasileiros resumem-se a sexo e palavrão é muito popular"
Também DESPREZO essa idéia! Quem diz, não conhece