Por Mário Bentes
O histérico pedido do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, de que o presidente venezuelano Hugo Chávez seja indiciado a um júri internacional por supostos crimes de colaboração com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) parece nada mais que uma cortina de fumaça para desviar a atenção do mundo e, principalmente, da Organização dos Estados Americanos (OEA), do crime de violação internacional de soberania cometida contra o Equador, quando o exército colombiano invadiu o espaço aéreo equatoriano para atacar bases das Farc instaladas naquele país.
Contudo, o intento de Uribe parece não ter funcionado como ele gostaria, já que a OEA e a maioria dos países sul-americanos com grande poder diplomático no continente, como Brasil e Argentina, não aceitaram a “desculpa” usada pela Colômbia para transpor-se além de seu espaço aéreo e exigiram uma ação séria contra o governo de Uribe, que se contentou com um infame pedido público de desculpas ao Equador. Obviamente, o maior interessado neste desentendimento internacional – o governo Bush – já se mostrou ao lado do governo direitista de Uribe, que todos sabem receber milhões de dólares dos ianques para supostamente “combater a ameaça terrorista” das Farc. Como mostram os últimos acontecimentos, de nada parece adiantar os repasses milionários.
Percebe-se, no entanto, que as tais intenções colombianas de dar fim aos crimes cometidos pelos narco-guerrilheiros são um tanto controversas. Qual a razão por trás de tal ataque contra as Farc em território equatoriano? Por que fazer isso justamente quando a guerrilha se mostra mais suscetível em negociar a libertação de reféns que permaneceram por tanto tempo em suas mãos? A resposta não é simples, mas algumas suposições e teorias no mínimo interessantes podem ser levantadas.
É sabido que, até o momento, as negociações com as Farc para a libertação de reféns têm sido lideradas por Chávez, o que não agrada nem um pouco a Uribe e muito menos aos EUA. Resultado: a Colômbia (sic, os EUA) tornou (aram) públicas supostas provas do envolvimento da Venezuela e do Equador com a guerrilha. De acordo com tais provas, supostamente encontradas em poder dos guerrilheiros mortos da ação do último sábado (1º) em território equatoriano, os líderes máximos das Farc se reuniram inúmeras vezes com representantes dos governos venezuelano e equatoriano para tratar sobre envio de armas e munições. Trata-se de acusações sérias contra a estabilidade política latino-americana, o que deve ser investigado com cuidado e não proferido com histerismo, como tem feito Uribe.
Paralelamente, o Senado brasileiro, por meio dos porta-vozes neoliberais e de discurso afinado com os interesses estrangeiros, como o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), tem cobrado uma posição “mais rígida” de Lula diante da crise. Em outras palavras, o que Virgílio quer é que o Brasil se ponha ao lado de Uribe (e ao lado do EUA), contra o Equador e, sobretudo, contra o “coronel” Chávez, termo usado pelo líder tucano no Senado – e tudo isso sob a velha bandeira do combate ao terrorismo e da ameaça das Farc na América-Latina.
Como se não bastasse a postura ignorante e irresponsável solicitada por esta ala estúpida do Senado, Virgílio ainda faz questão de “por lenha na fogueira”, reafirmando as oportunas acusações da entidade internacional financiada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a World Check (http://www.world-check.com), que cita – sem revelar provas contundentes – o Brasil como sendo um dos fornecedores de armas e munições às Farc, ao, lado de Equador e Venezuela. Tal acusação, no entanto, foi categoricamente negada pelo ministro da Defesa, Nelsom Jobim.
Em passagem por Manaus, Rafael Correa responde à crise
Em sua rápida passagem à cidade de Manaus (AM) após a visita de agradecimento ao presidente Lula, em Brasília, o chefe de estado equatoriano, Rafael Correa, destacou a importância da mediação da crise por parte da OEA e afirma ter sido enganado pelo presidente da Colômbia, Álvaro Uribe.
“Só há duas opções para que o Equador seja reconfortado pela crise ocorrida. A primeira é uma punição contundente contra a Colômbia e um pedido de desculpas sem trapaças. A outra é um compromisso formal da Colômbia em não mais agredir qualquer país da região”, afirmou o presidente à repórter Daniella Assayag do Jornal do Amazonas (TV Amazonas). Correa também disse que a invasão de fronteira poderia ter ocorrido em qualquer país sul-americano, já que as Farc possuem bases em diversos países da região.
Já o comandante do Comando Militar da Amazônia (CMA), general Heleno, garante que as fronteiras do Brasil estão protegidas contra quaisquer investidas estrangeiras. “Esta crise deve servir de alerta para nosso país”, afirmou.
É o que todos esperamos.
Artigo publicado originalmente no Blog do Bentes
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