sexta-feira, 28 de março de 2008

De Frente Com o Poeta

foto: Call.org.brPor Luiz Guilherme Melo, Narda Teles e Charles Bastos

Ar sério, respostas profundas, crítico da sociedade brutalizada e defensor ferrenho da leitura como instrumento transformador da vida do ser humano, assim é o escritor amazonense Tenório Telles. Natural de Anori (AM), Tenório, na adolescência, já rabiscava os primeiros poemas, incentivado por um professor do antigo segundo grau. Formou-se em Letras pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), é professor de Literatura Brasileira e há dez anos é editor da Editora Valer, selecionando livros para publicação e ao mesmo tempo ganhando, ao longo desses anos, alguns desafetos que não aceitaram a rejeição de suas obras. Tem 12 livros publicados e escreveu uma peça teatral (A Derrota do Mito) que para ele foi um exorcismo de tudo que o inquietava. O poeta defende a criação de bibliotecas nos bairros e não dispensa elogios quando se refere aos escritores e a literatura amazonense. Tudo isso e muito mais Tenório Telles disse nessa entrevista exclusiva à Babel*.

Babel – Como e quando você decidiu ser escritor?
Tenório Telles –
(breve silêncio) A minha opção em estudar literatura aconteceu como resultado de uma experiência que eu tive com o Professor Valadares, um homem apaixonado por literatura, no antigo segundo grau. Ele conseguiu contagiar não só a mim como aos outros alunos também, despertando o gosto pela leitura e poesia. Não só isso como estimulava, também, a gente a escrever. A partir desse contato com ele, eu decidi fazer o curso de Letras com o objetivo de ter uma proximidade com a literatura, pensando na possibilidade de ser escritor, mas eu imaginava que era um objetivo muito distante; achava que eu não ia conseguir escrever como os outros autores escreviam. Depois você vai vivendo e vendo que não é nada disso, que tudo é um aprendizado. Com o tempo, também, cai aquele mistério que envolve as pessoas que lidam com a arte; vê que eles são pessoas de carne e osso, e que escrever não é algo de outro mundo. Na universidade eu comecei a escrever, verdadeiramente, os primeiros ensaios e poemas. Foi aí que eu publiquei meu primeiro trabalho artesanal feito na universidade em 1988. Fiz o meu próprio livro com os colegas e nós lançamos numa Semana de Letras, foi uma experiência muito interessante. A partir daí pronto, eu comecei a escrever com mais freqüência.

BabelHá quanto tempo escreve e quantos livros seus já foram publicados?
Tenório Telles –
Desde 1988, há exatamente 19 anos. Tenho 12 livros publicados.

Babel – Como você define poesia?
Tenório Telles -
A poesia, não só como a arte da palavra, é uma expressão daquilo que o ser humano tem de mais essencial. É a fala do silêncio. A revelação de todos os segredos que a existência pode encerrar. Os poetas não só traduzem a vida em palavras, mas conseguem também traduzir os segredos que fazem parte da vida. Sem ela, a vida seria muito triste e despojada de magia e encantamento. Os poetas são os homens que têm essa capacidade de, não só atribuir sentido a existência, mas de encantá-la com seus versos.

Babel – O que a poesia representa para você?
Tenório Telles –
É o que me mantêm vivo hoje. Viver numa sociedade cruel e brutalizada como essa é muito difícil, de modo que a poesia embeleza um pouco as coisas. Ajuda-nos a viver. Ela, pra mim, é uma necessidade existencial.

Babel – Que poetas influenciaram o seu trabalho?
Tenório Telles –
No primeiro momento da minha caminhada eu gostava de alguns escritores românticos, que hoje eu não tenho mais afinidade, como Álvaro de Azevedo, Casimiro de Abreu e Castro Alves. Depois, a gente vai lendo, aprendendo, melhorando, e descobre outros escritores. Eu descobri aquele que seria o mais significativo da minha história: o Carlos Drumonnd de Andrade, que eu considero o grande poeta do século XX da literatura universal. Para mim, Drumonnd é o poeta que melhor conseguiu traduzir as angústias e as esperanças do ser humano. Além dele, eu gosto muito do Fernando Pessoa, que soube expressar através de sua poesia as apreensões do ser humano diante desse mundo tão conturbado. Hoje gosto cada vez mais do João Cabral de Melo Neto. O que me encanta muito nele é o cuidado que ele tem com a linguagem; a consciência do fazer poético. Eles não tiveram uma influência direta, mas através da leitura desses autores, eu adquiri uma profunda consciência do que deve ser a poesia e, sobretudo, uma compreensão da própria situação do ser humano no mundo.

Babel – Você se sente integrante de alguma escola literária?
Tenório Telles –
Não. Eu não tenho essa preocupação de fazer parte de uma escola. Vivemos numa época que não existe, pelo menos intencionalmente, uma escola literária em vigência. É uma época indefinida e ambígua, que alguns teóricos chamam de período pós-moderno: tem muitas identidades e manifestações, algumas até opostas, mas que convivem dentro desse grande espectro, que é o momento atual da cultura humana. A minha grande preocupação é trabalhar para ajudar a construir uma nova consciência sobre a sociedade, porque eu acredito que a cultura pode contribuir para mudar a vida das pessoas. Tudo que eu faço é com o intuito de achar que, pelo menos motivado pela ilusão, esses textos que eu escrevo, podem de alguma forma, tocar o coração dos homens e despertá-los para a necessidade de uma atitude crítica em relação à sociedade.

Babel – Como você avalia a literatura amazonense?
Tenório Telles –
A literatura que se produz no Amazonas é uma das mais ricas do país. Nós temos grandes escritores e a tradição muito forte em termos de poesia. Infelizmente, nós somos um estado periférico e, de um modo geral, as outras regiões não conhecem o que se produz aqui, mas ouso dizer que, ainda hoje, temos alguns poetas que estão no mesmo nível de um João Cabral de Melo Neto ou Ferreira Gullar, como por exemplo, Luiz Bacelar, um poeta excepcional; Alencar e Silva, um poeta muito especial; nós temos um autor como Elson Farias, que deu uma contribuição importante na poesia; Faria de Carvalho (já falecido), um poeta talentoso, como uma poesia tão expressiva. Infelizmente, são autores que não tiveram a aventura de serem reconhecidos pelos leitores do país, embora sejam aqui. Então eu vejo que a literatura do Amazonas tem um valor muito expressivo. E na prosa nem se fala, pelo menos dois dos grandes escritores brasileiros são amazonenses, como é o caso do Márcio Souza e do Milton Hatoum. Então se você fizer, hoje, um estudo da literatura brasileira em termos de prosa, entre os grandes autores da atualidade, esses dois amazonenses figurarão entre os mais destacados. Isso serve para ilustrar o valor que a literatura amazonense tem.

Babel – Onde precisa melhorar?
Tenório Telles –
Eu penso que a educação precisa melhorar, para que os jovens possam ter acesso aos livros e com isso ter a sua paixão despertada. Assim teremos no futuro novos escritores e daremos continuidade a essa tradição que nós conseguimos manter até aqui. O grande desafio hoje é tentar criar bibliotecas nos bairros para que as pessoas, em especial a juventude, possam ter contato com os livros. Existem muitos jovens talentosos que, ás vezes, não conseguem desenvolver o talento porque falta um aprimoramento. A leitura é fundamental nesse aspecto, pois ninguém se torna escritor do nada. Pelo contrário, um escritor surge de um longo trabalho de esforço e estudo. Não basta apenas ter habilidade. Talento desacompanhado de trabalho é inútil.

Babel – Qual a função da literatura na vida das pessoas?
Tenório Telles -
A função da literatura é a mesma função das demais artes. A literatura tem um caráter muito especial. Não é só informar, mas também é entreter, é aprofundar a sensibilidade das pessoas. Eu penso que a literatura pode cumprir um papel relevante no sentido de ajudar no aprimoramento espiritual do ser humano. Sem falar que ela também lida com os aspectos fundamentais da existência humana: imaginação, encantamento e magia, porque através dos livros você pode realizar uma das viagens mais essenciais da própria existência, que é através do mundo encantado das palavras. Lidar com elas é uma experiência determinante e definitiva na vida de qualquer pessoa.

Babel – Que poder tem um escritor?
Tenório Telles –
O escritor não tem poder nenhum. O que ele tem é apenas um atributo fundamental: a sua arte. É essa capacidade de criar mundos de tinta e papel para que as pessoas viagem por eles.

Babel – Como você avalia seus primeiros trabalhos literários? Existe algum que você se arrepende de ter feito?
Tenório Telles –
Muito ruins. Avalio meus primeiros trabalhos como uma criança que dá os primeiros passos, que tropeça muito, cai e que tem muita insegurança, por isso eu os queimei. No principio eu guardei, mas depois que eu amadureci, li esses trabalhos e percebi que na verdade era apenas um exercício. Descartei-os porque não tinham valor nenhum do ponto de visto do que eu penso ser a arte e o trabalho com a palavra. Mas foram importantes porque, afinal de contas, ninguém nasce escrevendo obras-primas. Então, a exemplo do que ocorre com quase todas as pessoas que escrevem, meus primeiros textos eram muito infantis. Contudo, não me arrependo de ter feito esses textos porque tudo na vida são processos. Naquele momento eu não poderia escrever outras coisas, era aquilo que eu tinha condições de escrever. A criação está muito associada com o amadurecimento, e na época eu era praticamente uma criança.

Babel – Como surgiu a idéia da peça teatral “A derrota do Mito”?
Tenório Telles –
Eu sofri muito para escrever esse texto. Porque na verdade eu escrevi numa fase que eu não sabia lidar direito com o meu desespero, por isso tem um caráter de negação dessa sociedade tão cruel e brutalizada. Esse texto nasceu como um longo poema falando do poder, da destruição da vida, da intolerância; depois se transformou numa peça. Eu me lembro que eu li, há muitos anos, uma passagem do ensaio de um antropólogo que me deixou muito inquieto porque falava da conquista dos povos da América pelos espanhóis e portugueses, sobretudo dos Incas e Astecas. Eu li que alguns povos, quando entravam em conflito com os conquistadores, e conseguiam abater algum soldado, costumavam abrir o peito dos inimigos, arrancavam o coração e colocavam um bloco de pedra no lugar. Com isso, eles queriam metaforizar toda a crueldade dos conquistadores. Eu fiquei muito inquieto com isso, então eu quis escrever um texto que retratasse essa maldade que tem marcado a própria história da civilização.

Babel – Você poderia resumir as idéias da peça “A Derrota do Mito”?
Tenório Telles –
É uma peça que tem como fundamento essa reflexão sobre a humanidade; a perda da esperança; uma reflexão sobre o poder que tem sido a causa de muitas misérias. É também uma peça que discute a questão do progresso humano como algo negativo porque, infelizmente, se por um lado a gente tem conseguido produzir coisas excepcionais, por outro lado, a gente tem percebido que isso não resultou no usufruto desses bens por parte da sociedade, e o resultado disso tem sido uma sociedade consumista com milhões de pessoas com o ser humano cada vez mais solitário e infeliz. Discute também a questão da alienação e da indiferença. Mas não fica limitada em discutir isso, pois é também, uma peça sobre esperança, porque mostra que há possibilidade de um novo caminho.

Babel – Escrever uma peça teatral significa também ver de perto a reação de seus leitores? Foi essa a sua intenção?
Tenório Telles –
O que me causou muita satisfação é que essa peça gerou muitas reações. Muitas positivas e também negativas. Teve um pastor que assistiu à peça e disse que eu era um defensor do diabo, um dos personagens da peça, e discute justamente com um pastor. A peça ficou três anos em cartaz, sempre com uma boa platéia, principalmente de estudantes. Foi um texto que naquele momento cumpriu um papel e para mim foi uma espécie de exorcismo de tudo que me inquietava.

Babel – Na sua avaliação qual é a situação atual da dramaturgia amazonense?
Tenório Telles –
É um momento de resistência. As pessoas que lidam com teatro no Amazonas são pessoas heróicas. Não é fácil trabalhar aqui porque não temos uma platéia que dê sustentação ao trabalho dos artistas. É preciso trabalhar um pouco mais nas escolas, principalmente com os jovens, para formar o gosto pelo teatro e assim eles comparecerem para assistir aos espetáculos.

Babel – Qual a importância da crítica literária?
Tenório Telles –
A crítica tem um papel indicativo e de discussão sobre o que está sendo produzido, até para facilitar a escolha do leitor, pois ele não tem condições de ler tudo. Ela ajuda a separar o joio do trigo porque um crítico bem preparado é fundamental até para educar as pessoas que estão envolvidas no processo. Por essa relevância que ela passou a ter na sociedade, a própria crítica se transformou num gênero literário.

Babel – Como é a sua relação com a crítica?
Tenório Telles –
É uma relação serena. Eu não me impressiono mais, como antigamente, quando alguém falava mal de mim. Com o tempo a gente vai aprendendo a lidar e ver que isso também é bom porque você não é perfeito, e acaba chamando a atenção para determinadas falhas que nem você tinha consciência.

Babel – Você pensa no leitor ao escrever?
Tenório Telles –
Não. Quando surge a oportunidade de escrever um texto, nesse momento me importa fazê-lo da melhor maneira possível, para que, de alguma forma, ele consiga ser a expressão daquilo que eu estou sentido. Se o escritor consegue escrever um texto verdadeiro, por certo que ele vai agradar o leitor; eu acho que a verdade e a beleza agradam qualquer pessoa.

Babel – Que imagem você tem dos seus leitores?
Tenório Telles -
De modo geral, a imagem que eu tenho dos poucos leitores que lêem meus textos (risos), é do leitor generoso, humano e que sonha com um mundo diferente.

Babel – Como é que você trabalha?
Tenório Telles –
Cada vez que você vai trabalhar um texto é diferente. De qualquer modo eu preciso estar motivado. Normalmente eu começo a sentir dentro de mim, como uma mulher esperando a hora de dar a luz. Surge a idéia de um texto e ele fica lá dentro de mim, dias e semanas. Quando chega um dia aquela idéia quer nascer, aí eu sinto aquelas palpitações e construo o texto na minha cabeça. Vêm frases e imagens; é nesse momento que eu costumo me recolher no meu escritório e lá eu consigo viver o meu parto. Eu gosto muito da solidão, pois tenho dificuldade de criar no meio de muita gente.

Babel – Quais são as suas fontes de inspiração?
Tenório Telles -
Meu grande referencial em termos de criação é a própria vida. Escrevo sobre coisas que eu vejo, leio, ouço; coisas que eu vivi e ainda vivo hoje.

Babel – Seu processo de criação mudou com o passar do tempo?
Tenório Telles –
Mudou muita coisa. Antes eu só escrevia a mão, não conseguia escrever no computador. Fazia muitas leituras antes de escrever. Tudo na vida muda permanentemente.

Babel – Como é ser escritor num estado onde as pessoas não têm o hábito da leitura?
Tenório Telles –
É um pouco frustrante, não pela questão da vaidade, mas pela questão do processo. Quando você não tem leitores, o método da criação é prejudicado por não ter como viabilizar a sua produção. Para produzir um livro você tem que fazer um investimento, e é alto em termos financeiros. Imagine gastar 10, 12, 15 mil para fazer um livro que não vai ser lido. Do ponto de vista da criação, pelo menos para mim, isso não me aflige. Eu não sofro por ter um, dois ou nenhum leitor, até porque escrever é uma necessidade imperativa minha. Escrevo para me manter vivo, preciso dizer o que eu sinto. É claro que, se vivêssemos em uma sociedade onde as pessoas gostassem de ler, isso daria uma outra dinâmica à vida cultural da cidade. Daria evidentemente mais satisfação a quem escreve.

Babel – Você já pensou em morar em outro estado?
Tenório Telles –
No passado sim, mas hoje não penso mais. Se assim for, eu vou para passar um tempo e volto pra cá porque eu não consigo viver em outro lugar. Eu gosto de viver aqui, pertenço a esse chão. Quando eu tô por aí eu fico inquieto. É como se fosse uma árvore sem raiz.

Babel – Que escritor você indicaria para o Jabuti ou Nobel?
Tenório Telles –
Foi uma grande injustiça a academia sueca não ter dado o Nobel ao Jorge Amado. Por que não ter dado também aos grandes poetas brasileiros como: Carlos Drumonnd, Manoel Bandeira e João Cabral. Hoje penso que eles ainda podem reparar essa injustiça com a literatura brasileira dando, quem sabe, o Nobel ao Ferreira Gullar.
Um escritor amazonense que merecia ganhar o Jabuti pelo seu trabalho é o poeta Luiz Bacelar.

Babel – Os prêmios literários são importantes para o escritor?
Tenório Telles –
Os prêmios literários cumprem uma função de promover a obra do escritor, mas o que importa é o trabalho dele. Tantos escritores maravilhosos não ganharam prêmio nenhum.
A preocupação dele não deve ser com prêmios e sim em realizar sua obra da melhor maneira possível, pois eles não tornam ninguém nem melhor nem pior.

Babel – O escritor é um ser solitário ou deve ter uma responsabilidade social?
Tenório Telles –
De modo geral, o escritor é um ser solitário por conta das circunstâncias da sua própria arte. Escrever é um ato solitário. Agora, ele não pode perder de vista que ele faz parte do mundo, portanto ele tem responsabilidades e compromissos. O escritor, tendo ou não muitos leitores, é um formador de opinião, o que ele diz vale na sociedade. Se ele tem essa capacidade de influenciar a percepção das pessoas, deve, na medida do possível, influenciar positivamente, despertando a atenção das pessoas para questões relevantes.

Babel – Qual o papel do intelectual amazonense no século XXI?
Tenório Telles -
Os intelectuais amazonenses devem se preparar para participar desses debates a respeito do futuro da Amazônia, que tanto chama a atenção do mundo por suas riquezas. Precisamos de intelectuais com um profundo conhecimento a respeito da nossa realidade para que eles possam defendê-la de maneira muito mais conseqüente e não ser apenas um mero espectador dos debates sobre a nossa região.

Babel – O que é para você cultura de massa? Rejeita-a?
Tenório Telles –
É uma cultura feita sem muito critério, que é vendida à sociedade através dos meios de comunicação, para o consumo imediato. Não contribui em nada para despertar o senso crítico das pessoas. Eu não tenho nenhuma afinidade com essa cultura, meu posicionamento em relação a ela é crítico.

Babel – Como você se define politicamente?
Tenório Telles – Eu sou aquilo que se chama hoje de dinossauro, porque nessa época em que as pessoas se guiam pelo consumismo, eu continuo acreditando em certos valores que não são cultivados nessa sociedade. Eu sou de uma geração em que as pessoas eram idealistas e continuo acreditando na possibilidade de viver em um mundo diferente. Do ponto de vista político, sou uma pessoa de esquerda. Eu continuo sonhando com a utopia, não só sonhando, mas tentando lutar por esses valores.

Babel – De seus livros, quais são os seus preferidos?
Tenório Telles –
Eu sou um aprendiz, não considero que tenha escrito nada de tão significativo. Tenho tentado me preparar para escrever coisas mais expressivas. Acho que fiz duas coisas relevantes até hoje: a peça “A derrota do Mito” e um CD-ROM que fiz sobre literatura amazonense. Uma contribuição importante, como registro de nossos poetas e escritores, pois contem depoimentos e conserva do esquecimento a voz de muitos poetas que já morreram.

Babel – Em algum momento você já pensou em parar de escrever?
Tenório Telles –
Sim. Já tive momentos de temor de achar que eu não iria conseguir fazer o que eu imaginava. A arte é um território cheio de contradições e angústias, e isso todos os artistas vivem. Além do mais, tem a questão da sobrevivência porque dificilmente um artista consegue ter as condições materiais necessárias para se dedicar integralmente à sua arte.

Babel – Quais são os seus próximos projetos?
Tenório Telles –
Eu tô muito envolvido agora em três projetos. Não tenho tido sorte em escrever um novo livro de poesias. Estou tentando há dez anos. Um ladrão entrou lá em casa e roubou meu computador e eu não tinha feito o backup. Assim eu perdi muitos poemas e não consegui relembrar de muitas coisas. Depois disso eu comecei a recompor esses textos escrevendo à mão. Deixei dentro de uma pasta, entraram no meu escritório e levaram essa pasta. Alguém, algum dia, deverá publicar esses textos como se fosse seu (risos), mas o que sobrou eu estou trabalhando e espero concluí-lo. Outro trabalho que vou concluir, que eu estava escrevendo com Paulo Graça, é um livro de história da literatura regional que já estava quase pronto, faltava alguns capítulos, mas o Paulo morreu e esse livro ficou incompleto. Ele vai completar dez anos de morto e agora vou criar vergonha para ver se ano que vem eu lanço esse livro para homenageá-lo. Também reunirei meus ensaios para publicar.

Babel - Há quanto tempo você é editor?
Tenório Telles –
Há dez anos.

Babel – Como é o Tenório Telles editor?
Tenório Telles –
Eu procuro me comportar com muito respeito pelo trabalho dos outros, mas tendo muito critério. O editor tem responsabilidade em observar aquilo que realmente vai representar uma contribuição à sociedade, do ponto de vista da informação e do estético. Infelizmente, quem trabalha nessa área editorial tem que lidar com a vaidade das pessoas, pois tem gente que não encara a literatura como algo sério; usa-a apenas como trampolim para se projetar socialmente. Mesmo assim, não trato essas pessoas com desrespeito. Pelo contrário, procuro entender isso como uma fragilidade humana, afinal, vivemos num mundo onde as pessoas têm que conviver com sua insignificância.

Babel – Você recebe muitos textos para serem avaliados?
Tenório Telles –
Muitos. Eu diria que 90% do que eu recebo não tem qualidade nenhuma. O que me surpreende nisso tudo é a falta de senso crítico das pessoas, o que é indispensável num escritor.

Babel – De que forma um escritor desconhecido deve proceder para tentar publicar seus livros?
Tenório Telles –
Primeiramente, ele deve preparar bem seu texto, organizar, ler, revisar e reescrever. Submeter esse texto a uma pessoa que conheça literatura, para que ele possa receber sugestões e depois submeter a uma editora para que ela examine.

Babel – Fale um pouco sobre a Academia Amazonense de Letras.
Tenório Telles –
Estou há cinco anos na academia. É uma grande responsabilidade fazer parte dela, pois as pessoas passam a cobrar muito de ti e você tem que se preparar. Mas a academia não torna você pior nem melhor no ponto de vista intelectual. A academia gera uma demanda maior em relação a você, mas não encaro isso como vaidade.

Babel - Que conselhos você pode dar a um jovem escritor?
Tenório Telles –
Eu não tenho conselho nenhum. O que eu posso dizer com base na minha experiência é que se alguém quer se dedicar à literatura precisa estar muito consciente do preço a ser pago, como o de viver numa sociedade ignorante onde as pessoas não lêem e onde os governantes têm desprezo por quem faz arte. O escritor tem que amar as palavras e os livros.

*Babel é o nome da revista feita pelos acadêmicos de Jornalismo do Centro Universitário do Norte (Uninorte) como trabalho para a disciplina Planejamento Gráfico em Jornalismo, ministrado pela professora Kasmin Bischaro no primeiro semestre de 2007.

Um comentário:

Raphael Alves disse...

Resumindo: sou fã do professor Tenório...