Ilustração: Alexkoti.com
Ele chegou faceiro, encolhido pelos cantos da casa. Era o cachorro que a minha tia pegara para criar, contrariando assim a decisão de vovó, que um dia declarou nunca mais querer saber de cachorro em casa. Fez essa promessa para si mesma desde que o seu velho vira-lata bateu as patas.
O poodle, de pêlos branco e fisicamente pequeno, logo conquistou-nos a simpatia, quer dizer, alguns parentes demoraram a aceitá-lo na família, mas logo o sem-vergonha roubou o coração destes também.
Era um cãozinho agreste. Não podíamos fazer um carinho que ele retribuía com uma bela mordida em nossas mãos. Adorava morder, principalmente calcanhar. Adorava também correr pra lá e pra cá, uma corrida maluca acompanhada de pulos frenéticos em cima do sofá, da cama, da roupa limpa, em cima do vovô, que detestava, mas logo se acostumou com as atitudes levianas do cãozinho, enfim, corria sem rumo que nem barata tonta do inseticida.
Tratado como filho, tinha casa, comida e tosa. Tudo como um bom cachorro gosta e todo vira-lata sonha. Mas no fundo, no fundo, ele tinha uma natureza malandra. Seu dom era ser cachorro de rua e não de madame. Por causa disso, não podíamos nos descuidar do portão, se o deixássemos aberto, o lado vadio do cãozinho aflorava e ele corria para a rua em busca de uma liberdade selvagem. Suas fugas foram frustradas pelo menos umas três vezes. Uma pelo meu tio, outro pelo meu primo e a última por um motoqueiro que por bondade ajudou meu primo, pesado e ofegante, que já perdia a esperança em capturá-lo.
Ninguém podia negar que o animal era veloz, esperto e driblava, com muita habilidade, carro, moto e gente. Por isso, minha tia, já desesperada em perdê-lo de vez para a rua, tomou medidas rígidas de segurança e o cãozinho passou um longo tempo sem ao menos sonhar com a liberdade, sem direito a banho de sol e muito menos a visitas íntimas.
Os dias passaram e tudo indicava que ele havia desistido de seu devaneio. Por isso, pelo bom comportamento do prisioneiro, o castigo foi suavizado e ele conquistou o direito de passar boa parte do dia solto, dentro de casa, é claro, pois do portão ninguém descuidava e quem escancarasse estava sujeito a uma severa admoestação de minha tia.
Como todo bom malandro, ele apenas deixou a poeira baixar para uma nova tentativa.
Dito e feito. Em uma atitude sagaz, ele sossegou numa tarde quente. O sossego foi tanto, que até esqueceram do prisioneiro, que observava do seu cantinho o movimento dos humanos, agitados com o calor. Não demorou muito e abriram o portão para ver se entrava um ventinho, pois até meus parentes já se sentiam prisioneiros. Era a oportunidade única que o patife não desperdiçou e não hesitou em correr em busca de sua independência, deixando para trás o conforto, as correntes e os gritos de “Pega! Pega!”.
Os parentes adultos correram atrás e logo desistiram nos primeiros metros diante de tamanha agilidade. Sobrou para a molecada da família e da rua, naturalmente cheia de fôlego, perseguir o vadio que corria sem parar pelas ruas, calçadas e quarteirões, driblando até sua própria sombra, afinal era a fuga de sua vida e não poderia falhar desta vez, em hipótese alguma.
Sua persistência valeu a pena, pois um por um os meninos foram desistindo pelo caminho. Restou apenas um, que resistiu por algum tempo e logo deu o último suspiro, parou e apenas assistiu o poodle sumir de vista, guiado pela sua insaciável vadiagem.
O cãozinho não somente fugiu, mas quebrou tabu e derrubou teorias.
O poodle, de pêlos branco e fisicamente pequeno, logo conquistou-nos a simpatia, quer dizer, alguns parentes demoraram a aceitá-lo na família, mas logo o sem-vergonha roubou o coração destes também.
Era um cãozinho agreste. Não podíamos fazer um carinho que ele retribuía com uma bela mordida em nossas mãos. Adorava morder, principalmente calcanhar. Adorava também correr pra lá e pra cá, uma corrida maluca acompanhada de pulos frenéticos em cima do sofá, da cama, da roupa limpa, em cima do vovô, que detestava, mas logo se acostumou com as atitudes levianas do cãozinho, enfim, corria sem rumo que nem barata tonta do inseticida.
Tratado como filho, tinha casa, comida e tosa. Tudo como um bom cachorro gosta e todo vira-lata sonha. Mas no fundo, no fundo, ele tinha uma natureza malandra. Seu dom era ser cachorro de rua e não de madame. Por causa disso, não podíamos nos descuidar do portão, se o deixássemos aberto, o lado vadio do cãozinho aflorava e ele corria para a rua em busca de uma liberdade selvagem. Suas fugas foram frustradas pelo menos umas três vezes. Uma pelo meu tio, outro pelo meu primo e a última por um motoqueiro que por bondade ajudou meu primo, pesado e ofegante, que já perdia a esperança em capturá-lo.
Ninguém podia negar que o animal era veloz, esperto e driblava, com muita habilidade, carro, moto e gente. Por isso, minha tia, já desesperada em perdê-lo de vez para a rua, tomou medidas rígidas de segurança e o cãozinho passou um longo tempo sem ao menos sonhar com a liberdade, sem direito a banho de sol e muito menos a visitas íntimas.
Os dias passaram e tudo indicava que ele havia desistido de seu devaneio. Por isso, pelo bom comportamento do prisioneiro, o castigo foi suavizado e ele conquistou o direito de passar boa parte do dia solto, dentro de casa, é claro, pois do portão ninguém descuidava e quem escancarasse estava sujeito a uma severa admoestação de minha tia.
Como todo bom malandro, ele apenas deixou a poeira baixar para uma nova tentativa.
Dito e feito. Em uma atitude sagaz, ele sossegou numa tarde quente. O sossego foi tanto, que até esqueceram do prisioneiro, que observava do seu cantinho o movimento dos humanos, agitados com o calor. Não demorou muito e abriram o portão para ver se entrava um ventinho, pois até meus parentes já se sentiam prisioneiros. Era a oportunidade única que o patife não desperdiçou e não hesitou em correr em busca de sua independência, deixando para trás o conforto, as correntes e os gritos de “Pega! Pega!”.
Os parentes adultos correram atrás e logo desistiram nos primeiros metros diante de tamanha agilidade. Sobrou para a molecada da família e da rua, naturalmente cheia de fôlego, perseguir o vadio que corria sem parar pelas ruas, calçadas e quarteirões, driblando até sua própria sombra, afinal era a fuga de sua vida e não poderia falhar desta vez, em hipótese alguma.
Sua persistência valeu a pena, pois um por um os meninos foram desistindo pelo caminho. Restou apenas um, que resistiu por algum tempo e logo deu o último suspiro, parou e apenas assistiu o poodle sumir de vista, guiado pela sua insaciável vadiagem.
O cãozinho não somente fugiu, mas quebrou tabu e derrubou teorias.
Escrito por Luiz Guilherme em 14/05/2007
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