quinta-feira, 6 de março de 2008

A Professora Esquentada


“Um homem se recusou a sair da calçada da casa da professora. Ela jogou um copo de gasolina e ateou fogo no pedreiro que estava bêbado.”
Correio Amazonense, sexta-feira, 19 de Maio de 2006

É muito comum hoje em dia você ouvir aquela frase ‘’onde vamos parar?!’’ Ou ‘’o que mais falta acontecer neste país?!’’ Já lemos ou assistimos jornal com a consciência de que um absurdo vai ser noticiado naquele dia, a maioria sobre política ou violência. Mas às vezes somos surpreendidos com notícias tão absurdas que baixamos as nossas cabeças e ficamos em dúvida se choramos ou rimos.
Fiquei nesse dilema um dia desses quando abri o jornal. Fui lendo e parei em uma notícia que me chamou bastante atenção. ‘’Uma professora tentou matar um pedreiro?!’’ Pensei. Fiquei perplexo com a notícia.
Exagero ou fato, o crime aconteceu no bairro Compensa 2, zona Oeste de Manaus. Uma professora, que tem a fama de ‘’valentona’’ no bairro, não gostou quando viu que um bêbado (este teve a infelicidade de sentar na calçada dela) estava na frente de sua casa. Ela imediatamente tentou expulsá-lo. O pedreiro se recusou e ela não satisfeita jogou um copo de gasolina e logo depois um fósforo aceso. O resultado vocês já devem saber. Este foi socorrido pelos vizinhos e foi internado em um Pronto-Socorro, mas já está fora de perigo. O mesmo não pode ser dito da professora, pois ela corre o risco de ser presa a qualquer momento.
A professorinha foi à delegacia logo depois do ocorrido. Você deve estar pensando: com a consciência pesada ela foi se entregar. Errado. Ela foi registrar queixa, pois teria sofrido uma agressão física por parte do pedreiro. Isso causou assim a revolta dos familiares da vítima, o pedreiro. E parece-me que ele não foi a primeira vítima. Os vizinhos disseram que outra pessoa já teria sido agredida pela professora, só que com uma faca. Esta suposta vítima pegou carona no fato e denunciou também, complicando ainda mais a situação da mestra.
Depois que li essa matéria, pensei: se ela for realmente violenta como será a relação dela com seus alunos? Não sei se são do ensino fundamental ou médio, mas os pobres devem morrer de medo. Imaginei, então, uma sala silenciosa, onde só se ouvia o barulho dos ventiladores ou do ar-condicionado; a doce e meiga professora pega um livro, explica o assunto e então pergunta:
- Alguma dúvida?
Os alunos indicam com a cabeça que não tem dúvidas. Então, acidentalmente, um aluno deixa o lápis cair (numa sala silenciosa isso faz um tremendo barulho). Ela olha para todos e grita:
- Quem foi o responsável?!
Todos ficam tremendo, principalmente o dono do lápis, coitado a essa altura do campeonato já deve ter ficado todo branco, azul, vermelho e amarelo. Ela mexe na sua bolsa, tira uma garrafinha de gasolina e um isqueiro e ameaça:
- Vocês já me conhecem! Mas um “piu” e eu faço churrasquinho de vocês!
Pessoas violentas se irritam por coisas banais. Por isso, ninguém se atreve a discordar.
Imaginei também a alegria que os pobres alunos vão sentir quando souberem que a sua doce e meiga professora corre o risco de dar aulas na prisão. Aliás, não seria uma má idéia, afinal, se por aí estão dizendo que a crescente criminalidade está ligada ao fraco sistema educacional do Brasil, uma professora como ela alfabetizando os presos seria uma maravilha.
Imaginações a parte, essa notícia foi publicada na seção ‘’últimas’’ do jornal. Não tinha outro lugar mais adequado que este para o fato ser noticiado porque a atitude dessa professora foi de última mesmo.

Escrito por Luiz Guilherme em 27 de Maio de 2006

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