Manou, Manau, Manao, Manaó, Manha, Manave, Macnal, Manouh, Manouâ, Manaos. Nome da tribo indígena homenageada pela capital amazonense Manaus gera debate quanto à grafia correta.
NARDA TELES
TABAJARA MORENO
Da Redação do Jornal Tréplica
A grafia correta da palavra “Manaos”, nome da tribo indígena que designa o atual nome da capital amazonense, tem sido motivo de uma controvérsia histórica que ainda hoje acirra o debate no meio acadêmico. Os aguerridos indígenas que ocupavam a atual região de Manaus se chamavam Manaos, Manaós, Manou, Manau, Manao, Manaó, Manha, Manave, Macnal, Manouh, Manouâ ou Manaos?
A historiadora amazonense Etelvina Garcia afirma que o nome correto da tribo é “Manáos”, com acento agudo no último “a”, ou “Manaos”, sem acentuação e com tonicidade na penúltima sílaba. “O nome da tribo nunca foi Manaós. É um desrespeito a história amazonense permanecer escrevendo a palavra de forma equivocada”, disse.
Do ponto de vista lingüístico, contudo, a acentuação da palavra na última sílaba é admissível uma vez que ela é largamente utilizada dessa forma no senso comum. É o que afirma a especialista em Língua Portuguesa Maria do Socorro Vianna, professora do curso de Comunicação Social do Centro Universitário do Norte (Uninorte). Ela explica que as palavras sofrem evoluções. “Não se pode impor o léxico da palavra por questões históricas”, assegura. Um exemplo disso é a palavra “Xerox”, que já está sendo escrita com acento agudo na letra “e” (Xérox).
A mestre em Sociolingüística Adriane Felippe também concorda que não há problema na acentuação de Manaós, do ponto de vista lingüístico. “A variação na forma de falar pode ter ocasionado a mudança na forma de escrever, haja vista que a escrita tenta reproduzir a fala, por mais que seja uma tentativa frustrada”, analisa. No entanto, considerando que a palavra é originalmente paroxítona (“Manáos” ou “Manaos”), a acentuação gráfica da letra “o” é um equívoco porque as regras gramaticais não prevêem o acento.
Controvérsias à parte, o mestre em história Rodrigo Fonseca afirma que a popularização do nome indígena é mais importante que a corruptela do termo. “Diferentemente das outras capitais brasileiras, que adotaram nomes cristãos, a capital amazonense homenageia os índios nativos”, ressalta.
BABILÔNIA GRAMATICAL
As divergências quanto à escrita do nome da tribo indígena que originou Manaus são inúmeras. Um mapa da planta da cidade, datada de 1906, ilustra bem a confusão. A palavra é escrita de duas maneiras no mesmo mapa: “Manáos”, com acento agudo no segundo “a”, e “Manaós”, acentuada na letra “o”.
De acordo com artigo de Robério Braga, secretário de Cultura do Estado do Amazonas, a palavra “Manaos” pertence ao tronco lingüístico Aruaque e aceita a pronúncia do “o” de duas formas: uma com tonalidade fechada (“Manaôs”) e outra com tonalidade aberta (“Manaós”).
A história da escrita no Brasil é marcada pela busca da representação fonética das palavras. Até o século XVI, palavras com som de “i” podiam ser escritas com as letras “i”, “y” e até mesmo “h”, reflexo do alto índice de analfabetismo no país e da influência de línguas indígenas, africanas e clássicas, como o Latim, na formação da escrita.
O primeiro acordo ortográfico da Língua Portuguesa data de 1911 e pretendia acabar com as diferenças na forma de escrever uma mesma palavra e promover a junção intercontinental da Língua Portuguesa.
O Brasil não aderiu ao acordo ortográfico provocando diferenciações sensíveis entre o sistema lingüístico usado em Portugal e no Brasil. A partir disso, a Academia de Ciências de Lisboa (ACL) e a Academia Brasileira de Letras (ABL) uniram-se para promover uma reforma na qual a linguagem praticada em ambos os países fosse levada em consideração.
O processo de reforma ortográfica da Língua Portuguesa foi demorado e começou em 30 de Abril de 1931, com a assinatura do acordo pelos presidentes da ACL e da ABL, sendo finalmente efetivado em 08 de Dezembro de 1945 com a aprovação e publicação do acordo ortográfico.
A grafia da palavra “Manaus”, com a letra “u”, é reflexo das mudanças promovidas pelo acordo ortográfico, iniciado em 1931. Nas bases do acordo está um dispositivo estabelecendo que ditongos orais, subordinados à consoantes, devem ser escritos com “i” ou “u”, caso da palavra “Manaus”.
terça-feira, 15 de abril de 2008
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