quinta-feira, 26 de junho de 2008

O segundo rugido do leão

A nova aventura supera a primeira em efeitos especiais e batalhas

Luiz Guilherme

Para os irmãos Pevensie se passaram um ano. Em Nárnia mais de 1.300 anos. Inevitavelmente, houve muitas mudanças: a era de ouro acabou, a terra foi dominada pelos Telmarines (espécie de piratas) e agora quem manda é Miraz (Sergio Castellitto), que faz de tudo para ser rei de Nárnia. Porém, Há um obstáculo: o seu sobrinho, o princípe Caspian (Ben Barnes), um jovem que se interessa muito pelo passado glorioso de Nárnia. Mas, Caspian descobre que Miraz planeja matá-lo após o nascimento de seu filho; ele foge e se junta a um grupo de narnianos, que vivem escondidos na floresta. Caspian, através de uma trompa mágica, convoca os antigos reis: Pedro (Wiliam Moseley), Edmundo (Skander Keynes), Susana (Anna Popplewell) e Lúcia (Geroge Henley). E juntos, com os animais falantes refugiados (como o ratinho valente Ripchip) tentam reencontrar Aslam para libertar Nárnia dos telmarines. E assim começa As Crônicas de Nárnia - O Príncipe Caspian (2008), a segunda adaptação do clássico da literatura mundial do escritor irlandês C.S. Lewis.

O autor de As Crônicas de Nárnia narra com maestria suas aventuras fantásticas (recomendo a leitura). Em linguagem clara e direta envolve o leitor no mundo mágico de Nárnia. Creio eu que a adaptação desta obra é menos trabalhosa que um Senhor dos anéis, por exemplo. Detalhes são tão dispensáveis pelo escritor que os realizadores se dão ao luxo de estender partes que na versão literária não passam de uma breve citação. O que poderia ser um risco, às vezes, acaba sendo um acerto. Um exemplo na adaptação do segundo filme: enquanto que no livro trazer de volta a Feiticeira Branca (Tilda Swinton) é só uma sugestão dada por uma das personagens, no filme ela aparece de fato, dentro de uma coluna de gelo, e é uma das melhores cenas do filme. É muito bom rever Tilda interpretando a feiticeira. Sinceramente, não sei se outra atriz incorporaria tão bem a personagem, que possui duas características marcantes: frieza e falsidade.

Quem assistiu a primeira adaptação da famosa série do escritor irlandês, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa (2005), e viu aquela batalha ligth, que mais parecia uma apresentação de balé, nunca imaginou que o segundo filme evoluísse tanto a ponto de levar o espectador a lembrar de outra adaptação famosa - a trilogia O Senhor dos Anéis -, ou seja, as fronteiras entre Nárnia e a Terra Média diminuíram consideravelmente. Há muitas mortes numa batalha épica travada a céu aberto; inclusive tem uma cena de decapitação, porém, assim como no primeiro, sem derramamento de sangue. Tudo é mostrado com eufemismos.

Porém, nem tudo são flores. Acontecimentos isolados foram acrescentados para deixar o filme mais atraente ao grande público, e pode desagradar quem acompanha a aventura pelo livro. Primeiro, a desnecessária rivalidade entre Pedro e Caspian para liderar os narnianos. Segundo, o clima de romance entre Susana e Caspian. Para uma seqência que pretende ter o mesmo sucesso de bilheteria que o filme anterior, é válido dá umas pitadas do gênero para tentar agradar gregos e troianos. Afinal, há quem ache indispensável num filme de aventura um romance, nem que seja frustrado. O problema é que ao invés desses detalhes (gorduras que deviam ser queimadas), os roteiristas deveriam dá uma atenção especial para a personagem Lúcia e o Leão Aslam. É neles que a moral da história se concentra. Faltou sensibilidade nesse sentido. Aslam, por exemplo, foi pouco explorado, o que fez com que alguns críticos tachassem sua aparição como tardia. “Só surgiu mesmo para colocar os pingos nos “is””, escreveram alguns. Na verdade a esperança inabalável de Lúcia nele, contrapondo com a incredulidade dos demais, é o ponto principal do enredo, mas, infelizmente, aparece em cenas secundárias; para o espectador menos atento passa batido, e a personagem fica parecendo mais um “ombro amigo” aos outros personagens desanimados ante as dificuldades.

Muitos disseram que Nárnia está parecendo a Terra Média de J.R.R. Tolkien. Realmente. Concordo. Ainda mais quando vemos cenas onde o exército do rei Miraz marcham para a guerra. Nessa hora é quase impossível não lembrar dos orcs marchando em O senhor dos Anéis: As duas torres (2002). Em relação a maturidade da série: é absolutamente normal e necessário. Vejamos como exemplo a franquia Harry Potter, o primeiro filme era bem infantil, focado mais na apresentação de um mundo mágico; já o segundo, A câmara Secreta (2002), é mais sombrio, o que causou espanto na época, inclusive em alguns fãs. Assim é a continuação de Nárnia; deixa de ser aquele ambiente colorido e torna-se, sem perder jamais a magia, um lugar sombrio e selvagem. A direção também está mais madura. Andrew Adamson (Sherek 1 e 2) já provou a todos que tem talento e capacidade para dirigir bons filmes com atores de carne e osso.

Superior ao primeiro filme em alguns aspectos, entre eles os efeitos especiais, essa nova aventura deu um fôlego e tanto para que os outros livros de Lewis sejam adaptados para o cinema.

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