sexta-feira, 18 de julho de 2008

Papo F!losóf!co


Narda Teles*

Mulheres loucas Mulheres

Ao iniciar este artigo sobre a mulher pensei em relatar uma história feminina de luta contra o preconceito, de conquista da liberdade e da dignidade. No entanto havia uma insatisfação em falar tais coisas, afinal todo mundo fala isso. Porque perder tempo repetindo o senso comum? Seria uma ofensa à inteligência do nosso leitor. Pior, seria uma ofensa a nossa própria inteligência. E como já dizia Betold Brecht: “Eu, que nada mais amo do que a insatisfação com o que se pode mudar, nada mais detesto do que a insatisfação com o que não se pode mudar”.

Mudaremos então o rumo de nossa discussão para as mulheres que se auto-desvalorizam. Não as que sofrem com a fome, a falta de escolaridade, o descaso das autoridades, mas as que vagam nas ruas “imundas” e “infectas” das cidades por opção própria. As primeiras estão associadas à pobreza, as outras não; aliás é cada vez maior o número daquelas cujas famílias possuem um bom poder aquisitivo. Algumas tem formação, inclusive superior, porém adquiriram o diploma da imbecilidade. Se expõe depravadamente na internet e dizem que isso é ser moderna, dão pra todo mundo porque “ficar” é legal.

Elas se acham; se acham as mais de bunda, as mais de peito, as mais bonitas; enfim, as que fazem beicinhos para se parecerem com símbolos sexuais. É um verdadeiro show de narcisismo! Para elas é o máximo aparecer; a tal ponto que perderam a noção de educação; aliás, não sabem o que é isso. Gritam em qualquer lugar, sentam no colo de “colegas”, falam leseira, arrotam publicamente... bom, a lista é grande. Há também as que querem a fina força mostrar classe; essas falam carioquês, usam a roupa da moda e só namoram com cara de carro. Elas são uma tribo em expansão.

Mas de onde vieram? Como se formaram? Algum dia já tiveram ética? Bom, sem dúvida esta seria uma pesquisa antropológica interessante a se realizar. No entanto, como não temos tempo hábil para tal empreitada, vamos arriscar uma possibilidade de análise para tais questões. Inicialmente, pensemos: a quem interessa que a cota feminina da sociedade se torne adorno de prazer e consumo? Afinal, nas últimas décadas, as mulheres mostraram inteligência, independência, competência e participação ativa na vida pública e política de uma sociedade exclusivamente masculina. Ou seja, elas se tornaram uma ameaça ao domínio dos homens.

Assim, era preciso interromper esse processo revolucionário, colocar a mulher novamente num patamar de submissão e à disposição dos desejos masculinos. Para isso, nada melhor do que “adoecê-las” com um vírus fatal: a doença das aparências construídas artificialmente. Que doença é essa? De que forma é transmitida? É a doença em que se acredita querer ser o que não se é. Ela mata de forma brutal; ataca o cérebro com códigos que levam a vítima a debilidade. Através da propaganda (que está a serviço dos poderes capitalistas e do Estado) ela realiza um feito mais cruel e violento que o de Bin Laden: explode a alma e a consciência crítica humana. O que vemos, na realidade, são algumas mulheres manipuladas, anestesiadas e corrompidas pela grande máquina do poder. Mas o tiro saiu pela culatra; pois os homens que detém o poder, perderam o controle deste vírus; e agora, eles também são vítimas de seus próprios moldes.

*Atriz, professora de Filosofia e diretora de teatro

2 comentários:

NATURISMO AMAZONENSE disse...

Narda, esta visáo que vc relata é, infelizmente, uma realidade. A salvaçáo é uma só: o uso do objeto produzido por Gutemberg, e de forma integral. Jorge Bandeira

Unknown disse...

Que bom saber q alguém compartilha das mesmas óticas de pensamento q eu. Não é à toa q te admiro, Narda.Parabéns pelo artigo.Amei.