*Ellza Souza
Vou sempre retomar o assunto. Uma fisgada atravessa meu peito ao passar em frente do que resta da Biblioteca Pública do Estado do Amazonas. O prédio, um belo exemplar do que constitui a nossa arquitetura dos tempos áureos, está fechado, abandonado. Fico pensando onde foram parar os livros. Cadê o acervo de preciosidades que serviu a muitas gerações? E os jornais antigos que retratam a nossa história? Esses jornais que consultei algumas vezes já tão frágeis. Fico imaginando se foram removidos por pessoas que não sabem de seu valor histórico. Os livros, muitos raros, velhinhos, “sem valor nenhum”, para alguns. É mais fácil jogar no lixo ou dar para uma criança recortar suas páginas. Ou quem sabe ir para alguma biblioteca mais abastada.
Em 1945 um incêndio tomou conta da Biblioteca e arrasou o acervo de obras importantes e raras. Apenas os livros que haviam sido emprestados para a Feira de Amostras, um grande evento que estava acontecendo em Manaus, escaparam. Moacir Andrade, o nosso pintor e fundador da Pinacoteca do Estado que funcionou nesse prédio, falou da tristeza que foi essa calamidade na época.
Muita gente passa no local mas as bibliotecas, livrarias (quantas existem numa cidade com mais de um milhão de pessoas?), museus, galerias de arte, parecem não fazer falta. Ninguém reclama. Ninguém cobra das autoridades providências. O abaixo assinado está em desuso. E assim a nossa história vai sendo apagada. O povo vai ficando cada vez mais desinformado. E nós, do extremo norte brasileiro, que já estamos isolados pelas grandes distâncias, ficamos isolados pela falta de informação, de cultura, de conhecimento. E ficaremos sempre rebaixados perante governos que não precisam disso para viver.
*Ellza Souza é jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Roteirista e escritora.
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