Ellza Souza
Saí da sala de exibição com a cabeça fervilhando com as belas cenas do filme de Thiago Briglia, de Boa Vista (RR), que estava presente e, depois da mostra, respondeu às perguntas do público sobre aquela produção. Vencedor do DOCTV de seu Estado em 2006/2007, Thiago falou que a maior dificuldade que encontrou foi quanto à logística e, o fato de sua equipe ser grande, não diminuiu os muitos problemas que encontrou quanto ao acesso aos lugares filmados no Monte Roraima. O documentário chamado “Nas trilhas de Macunaima” da III Mostra do Filme Etnográfico fala desse personagem sob a ótica do povo indígena do extremo norte do Brasil.
Mito ou real não se sabe. Os relatos do povo que vive nas proximidades do Monte Roraima mostram que Macunaima é muito diferente do personagem de Mário de Andrade, Macunaíma. No filme ele mostra muito bem essas diferenças. O jovem cineasta destaca os contrastes desse ente, sol ou lua, bom ou mal, e provoca, mesmo sem querer, uma discussão entre os leigos do assunto. Para os índios da tríplice fronteira que vivem aos pés desse monte encantado, Macunaima é uma certeza que inunda suas mentes. Thiago Briglia trata o tema com sensibilidade e tenta interferir pouco no cotidiano dos índios. Um dos costumes mostrados é a pesca manual usando um tipo de vegetação, uma espécie de palha que os meninos indígenas usam para anestesiar os peixes e facilitar a sua captura.
O filme é muito bem feito e traduz o que as populações tradicionais do norte do país sentem com relação às suas crenças, sua afetividade, seu dia a dia, suas contradições, seu rico imaginário lotado de entes, deuses, heróis, árvores com todos os frutos juntos. O Roraima, um monte que só deixa subir quem ele quer, só pode ter Macunaima como dono e protetor. A exuberância de suas paisagens, de sua biodiversidade, de seus laguinhos e tesouros não é pra qualquer mortal principalmente aqueles que não podem ver uma plantinha que já querem arrancar o seu galho.
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