Da equipe do Jornal Tréplica
Quem o olhou antes não imaginava do que ele seria capaz. Vestido com uma roupa de detetive azul marinho, cabelos baixos e uma voz tranquila e firme, o pedagogo, com vasta experiência na área de Educação e autor de livros técnicos e infantis, Geraldo Almeida disparou logo no início da sua fala: "Temos que acabar com o fundamentalismo idiota que tomou conta dos professores do ensino básico e do ensino superior de que quem não lê não presta". Ele disse isso na mesa redonda "Leitura e Letramento" no Simpósio de Leitura e Formação de Leitores, realizado nos dias 20 e 21, no auditório da reitoria da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Av. Djalma Batista, como parte da programação do Festival Literário Internacional da Floresta (Flifloresta).
A platéia, em sua maioria formada por professores, se dividiu. Uns concordaram com calorosos aplausos. Outros, em silêncio, encaravam o palestrante. "Vamos acabar com o fundamentalismo da leitura. Deixem os alunos que não gostam de ler em paz, pois eles podem ser o futuro presidente do vosso país," continuou Geraldo. Muitos acharam estranho ele expor essa idéia num simpósio onde se discutia formas de incentivar a leitura e formar novos leitores. Uns entenderam que o educador não deve forçar o aluno a gostar de ler, outros, como a jornalista e escritora Leyla Leong, entenderam que o pedagogo estava desmoralizando os livros.
No momento do debate com a platéia, algumas pessoas manifestaram-se a favor ou contra as idéias do pedagogo e escritor: "Se eu seguisse seus conselhos não leria, ficaria em casa assistindo TV", escreveu um. "O que você disse é um monte de sandices; não lerei seus livros", criticou outro. "Concordo com você. O professor não é um ditador", escreveu uma professora. Geraldo leu em voz alta a maioria das perguntas e comentários dirigidos a ele.
Geraldo Almeida também afirmou que uma pessoa não é pior que outra porque não lê Machado de Assis - aproveitou para dizer que não suporta o escritor que completou 100 anos de morte no último dia 29 de Setembro. "E eu preciso ser respeitado por isso", disse. Defendeu também que só a palavra escrita não ajuda a formar um cidadão. "Um homem não é formado apenas pelas palavras, mas, por outras leituras". Com essa afirmação ele encerrou sua fala enquanto parte da platéia o aplaudia com empolgação.
O pedagogo Geraldo Almeida fez a diferença num evento onde a maioria esmagadora defendeu o livro como elemento transformador do homem. E por ter defendido idéias polêmicas - segundo alguns, incovenientes - num evento como o Flifloresta, ganhou desavenças e admiradores. No intervalo, ele fez questão de reforçar ou esclarecer o que quis dizer a cada um que o abordou. Não apenas isso como distribuiu sorrisos, beijos e ainda posou para fotos.
Livros
Geraldo Almeida escreveu livros técnicos e infantis. Entre os técnicos escreveu "Ler, Escrever e Pensar", "Desenvolvimento da Escrita", "Práticas de Alfabetização e Letramento" etc. Os infantis: "Um Buraco no Meio do Céu", "Azul-Banana", "Para Sempre" etc.
Um comentário:
Caro Luiz Guilherme,
Sinto muito ter pasado tanto tempo, porém , só hj tive acesso a seu artigo. Confesso que nunca vi alguém absorver tão bem e com tanata propriedade uma intenção. Vc pegou o centro d aminha ideia e isso me deixou muito contente. Quando participei do evento de Manaus fiquei realmente muito triste com aquela leva de escritores só vendo a leitura como fim, como algo produtivo, maravilhoso, e por ai vai. Eu quis mostrar que em qualquer ato humano, e portanto também na leitura, não há só certeza, as dúvidas e as falhas são também pertencentes ao ato. Achei seu artigo, lúcido, esclarecedor e acima de tudo, profissional.
Parabéns. Estou a disposição. Geraldo Almeida - de Curitiba em 15/3/2010. gpalmeida@uol.com.br
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