segunda-feira, 24 de novembro de 2008

PEDESTRE PODE SER A MÃE

*Ellza Souza

Cheirosinha, gostosinha, bonitinha. Pela manhã saí de casa depois de um belo banho e debaixo de chuva fui para a parada de ônibus esperar o 123. Durante o trajeto, poças se esparramam pelo asfalto. As calçadas quebradas diminuem o pouco espaço destinado aos que andam a pé. Bem, lá vou eu com uma sombrinha na mão, uma pasta debaixo do braço e a bolsa a tiracolo. Espremida entre muros e a avenida tento me desviar dos buracos, poças e carros. É uma missão possível quanto aos buracos e poças mas quanto aos carros que trazem aos volantes seres, humanos ou não, é difícil escapar. Eles passam com velocidade exagerada justamente onde tem água empoçada e o estrago está feito. Sem ter pra onde correr, o banho de lama é fatal. Até à parada foram três banhos, de água não exatamente potável.

Fico com a impressão que o motorista faz de propósito e passa exatamente na lagoa para jogar a lama na pessoa que angustiada tenta se proteger nas beiradas da rua. Muitos se protegem em insufilmes incestuosos que não deixam ver o mau educado e a velocidade impede de ouvir o palavrão que acompanha o forçado banho.

A prática da gentileza no trânsito é normal na sociedade e contribui para uma vida melhor para todos. Cada um esperar a sua vez, não ultrapassar com arrogância, não exagerar no uso da buzina, diminuir a velocidade na chuva, respeitar sempre o pedestre. Ali pode estar seu pai, seu filho, seu avô, seu tio, seu amigo, sua mãe. Não exatamente sob as suas rodas mas de um outro motorista que compactue das mesmas táticas. Você gostaria que sua genitora tomasse um banho desses pela rua? Eu não gostaria. Como eu não quero para mim não quero, também, para os outros.
*Ellza Souza é jornalista formada na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Roteirista e escritora;

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