domingo, 15 de fevereiro de 2009

O reality show do efeito Obama

Luiz Guilherme Melo

Barack Hussein Obama Jr. Esse nome ecoará na mídia por muito tempo. Quem não o conhece, já morreu ou mora numa ilha deserta. Homem negro, elegante, bom orador e otimista. Todos parecem gostar dele. Tanto que até agora nunca li uma crítica severa a ele. Talvez porque a administração dele mal começou. Talvez. Mas o fato é que a badalada posse de Obama no mês passado mobilizou a comunidade internacional. A mídia espetacularizou o acontecimento e foram poucos os que não pararam em frente a uma TV, grudaram os ouvidos num rádio ou os olhos na tela de um computador para acompanhar passo a passo a posse do 44° presidente americano – o primeiro negro, como os grandes jornais fizeram questão de martelar em nossas cabeças durante muito tempo.

O novo presidente é carismático e o seu discurso de respeito às diferenças agrada a um mundo que hoje está mergulhado numa grande crise, em todos os sentidos. Guerras, preconceitos, desemprego, perseguições, o mundo está sedento por união, por paz. É motivador para boa parte das pessoas que o discurso de união das diferenças saia da boca do líder da atual potência mundial. Isso contamina o mundo com otimismo de um amanhã melhor, mais justo e tolerante.

Obama sempre teve facilidade de agradar a gregos e troianos. Quem disse isso foi sua antiga professora, Joan Helbing, 70, que deu aulas ao menino que viria a ser presidente na escola Punahu, em Honolulu, Havaí. Ela, é claro, acompanhou a posse com muito orgulho e disse que a facilidade de Obama de relacionar-se com as mais diferentes tribos não é de hoje."Me lembro dele com um aluno aberto ao mundo. Ele era capaz de superar as diferenças entre os grupos: os nerds, os esportistas... Ele passava com facilidade de um grupo ao outro", disse a professora aos jornais.

"Menina dos olhos" dos jornais


Até os inimigos dos Estados Unidos não andam"atacando" Obama com freqüência. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, por exemplo, optaram pelo ceticismo, ou seja, pelo esperar para ver. Mas, será que a"Obamamania" contaminará os inimigos também? É esperar para ver. No seu primeiro discurso como presidente, Obama não descartou estender a mão para os inimigos e disse estar disposto a dialogar com os mesmos. Isso, é claro, foi visto com bons olhos pela comunidade internacional, inclusive por alguns críticos dos Estados Unidos, embora não tenham demonstrado explicitamente.

O efeito Obama não pára por aí. As primeiras ações do presidente foram a assinatura de um decreto que ordena o fechamento da polêmica prisão de Guantánamo no prazo de um ano, além de mostrar-se disposto a lutar por uma"paz duradoura" no Oriente Médio, só para citar os primeiros movimentos de destaque do presidente. Tudo, obviamente, acompanhado pela mídia, encantada com Obama desde as prévias, no começo do ano passado.

E tem sido assim; desde a vitória dele nas urnas, não se fala em outra coisa. Ganhou capas nas revistas semanais, reportagens extensas, notinhas e artigos. Quem, pelo menos não sabe onde nasceu o novo presidente americano, corre sérios riscos de ser execrado publicamente ou no mínimo ser tachado de"morador da lua". Agora, é claro, a cobertura intensa feita pelos grandes veículos nem sempre traz informações que realmente interessam. O irrelevante ganha destaque também. O vestido da primeira-dama Michelle Obama, as músicas prediletas de Barack Obama ou a banda teen preferida das suas filhas ganham espaço até nos veículos sérios. É uma proeza.

Poucos políticos conseguem saltar das páginas de política e render matérias para outras editorias. Podemos dizer, sem medo, que o presidente é uma autêntica celebridade. Daqueles que são recebidos calorosamente nos lugares que visitam. Inclusive, já visualizo a primeira visita de Obama ao Brasil (programada ainda para este ano). Ao contrário das últimas visitas de Bush, acho difícil ver um"Fora Obama" pichado nos muros e viadutos das grandes cidades e é até capaz de presenciarmos brasileiros cantando o hino americano com uma bandeirinha na mão.

Exageros à parte, o presidente americano está participando, inevitavelmente, de um reality show. Seus passos, frases e decisões estão sendo devidamente registrados e acompanhados 24 horas por dia. Obama ainda será a"menina dos olhos" da editoria Internacional dos jornais por muito tempo. E, se depender da mídia, o"açúcar" não acabará tão cedo.

Publicado originalmente no Observatório da Imprensa

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