sábado, 19 de abril de 2008

O Mundo de Sylvia Orthof


Ontem (18 de abril) foi dia do livro e geralmente, nas comemorações nos colégios de ensino fundamental (e médio também) lembra-se muito de Monteiro Lobato, pai de Emília, Pedrinho, Narizinho e cia. É claro, a obra de Lobato tem total relevância na literatura infanto-juvenil brasileira, mas é bom lembrar que temos outros bons autores. Um deles é a carioca Sylvia Orthof (1932 - 1997).


Filha de judeus austríacos e dona de um texto dinâmico e profundo, Orthof mesmo não sendo tão conhecida, foi uma autora que conseguiu escrever textos que retratam fielmente o vasto universo infantil. Inclusive a linguagem. Na sua obra, utilizou (sem vulgaridades) com naturalidade palavras muito presentes no vocabulário das crianças como pum e bumbum.


Através de seus textos, aparentemente ingênuos, fazia reflexões profundas. Aliás, não é qualquer autor que trata sobre a ambigüidade humana num texto infantil. Ela conseguiu a proeza em Uxa, ora fada, ora bruxa, um de seus livros mais famosos.


Com textos curtos e poéticos, quase musicados, Sylvia escreveu mais de cem livros. Atuou no teatro, a arte que a levaria para a literatura infantil. Escreveu peças para crianças (muitas delas premiadas). Uma de suas peças publicadas, Eu chovo, Tu choves, Eles chovem, é uma tempestade de criatividade. Neste livro, a imaginação, obrigatoriamente, deve criar asas e voar livremente no universo criado por ela. Logo no texto de apresentação, a autora diz que a peça pode ser apresentada em qualquer lugar e com materiais simples como sacos plásticos, espelhos etc. o que importa é a imaginação fluir.


Seus textos eram vivos. Nos dois sentidos. Até os postes de luz e estátuas ganham destaque nas suas narrativas. Explora como ninguém as ironias, comparações, ambigüidades e, principalmente, o humor, tão presente nos livros de Sylvia. As ilustrações são outro destaque de sua rica obra. Ora são rabiscos feitas por ela, ora são desenhos, verdadeiras obras de arte, feitas por seu marido Tato (1912 - 1998) – pseudônimo do artista plástico polonês Samuel Gostkorzewicz- e seu filho Gê.


Mesmo sendo bem grandinho, não resisti a oportunidade de devorar um de seus livros na biblioteca do Sesc. O livro chamava-se Os Bichos que Tive. São crônicas que narram lembranças dos bichos de estimação que ela teve na infância, incluindo um bicho-de-pé. São narrativas recheadas de comicidade.


O livro, assim como a maioria da literatura infantil, é curto. Por isso, devorei-o em menos de uma hora. Foi uma experiência interessante. Eu, rodeado de senhores lendo livros acadêmicos, divertindo-me com um livro de Sylvia Orthof. Senti-me criança novamente em 60 minutos.


A fada, como era conhecida, partiu em 1997, há exatamente 11 anos atrás. Deixou saudades e uma vasta obra para ser lida e relida por muito tempo.

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