domingo, 20 de abril de 2008

Ser Humano Padronizado?

Luiz Guilherme

A colunista Mazé Mourão escreveu na sua crônica dominical, publicado no jornal A Crítica deste domingo (20 de abril) no caderno Vida & Estilo, sobre o caso Isabella. O título é: “Isabella, por quê?”, uma espécie de carta à menina morta no dia 29 de março depois de ser jogada do sexto andar de um prédio em São Paulo (aliás, a mídia explorou tanto esse caso durante a semana que não será prejuízo não dar mais detalhes sobre o caso).

Mazé também não fala sobre o crime em si, mas escreve, em um parágrafo, sobre algo que também foi muito discutido nas rodinhas de amigos e nas salas de aula das faculdades: o comportamento da mãe de Isabella.

Ela escreve o seguinte:

“Gostaria de ver estampado no rosto de sua mãe algo que certamente deveria estar ali, estampado no rosto de alguém que perdeu um membro do corpo: a sua falta ou a falta da sua presença (Isabella*). Gostaria que ela aparecesse tresloucada, transtornada, extremamente abatida como toda mãe nessa hora estaria, demonstrando que ela sente o que fatalmente qualquer mãe ou avó estaria sentindo: indignação, raiva, revolta.”

A mãe de Isabella, a bancária Ana Carolina Oliveira, realmente aparece, diante das “câmeras-vampiros” das emissoras, tranqüila, às vezes, sorrindo um sorriso de gratidão pela solidariedade que tem recebido de todos os lados. Não é sempre assim. Durante a missa realizada nesta semana em homenagem à sua filha, ela se emocionou em público. Nas imagens do velório da menina, ela também aparece chorando. Não foi suficiente? Muitos dizem que acham estranho o comportamento da mãe. Por quê? Porque ela não extravasa suas emoções em público? Eu não a acho estranha. Os seres humanos têm personalidades diferentes uns dos outros. Eu posso ter uma reação ante uma situação, você outra. Assim também com a morte. Cada um reage de um jeito. Há pessoas que externalizam suas emoções. Outras preferem sofrer calado, discretamente. Umas demoram a se recuperar da perda. Outras conseguem superar com mais rapidez - não quer dizer esquecer vale lembrar. O que percebi nas discussões é que no fundo, no fundo, a sociedade já espera um determinado tipo de comportamento das pessoas envolvidas em tragédias semelhantes. Porque já estão acostumadas a ver isso na televisão, principalmente, naqueles programas sensacionalistas que exploram o sofrimento alheio.

Não é preciso ter poderes sobrenaturais para saber que Ana Carolina Oliveira sofreu e está sofrendo a perda da filha. Ela só não demonstra isso com clareza suficiente (à alguns) para as câmeras da Globo, Record, SBT, RedeTV etc.

*grifo meu

Um comentário:

Josiane Santos disse...

Um título veio a calhar ao seu texto. Já ouvimos até na sala de aula essa discussão sobre esse comportamento "estranho". Se não bastasse sermos regidos por padrões de beleza, agora teremos que seguir um padrão de sofrimento?
Aproveitando a portunidade,comento sobre a cobertura da mídia sobre esse assunto: virou uma "guerra" entre quem consegue a informação, entrevista e detalhes da investigação exclusivos.
Não desmerecendo o caso, mas quantas isabelas existem por aí? E não precisamos irmos muito longe, a região Norte e Nordeste tem os maiores índices de prostituição infantil (que para mim é a mesma forma de violência).
Infelizmente, assunto de violência contra criança só se torna interesse público quanto é amplamente divulgado pela mídia.

Josiane Santos