Para driblar o desemprego, muitos buscam no trabalho informal a solução para a falta de renda.
Por Tabajara Moreno
Recessão econômica, abertura comercial, ajustamento no setor privado em busca de maior competitividade, a privatização e o plano de estabilização econômica são, segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fatores que impulsionam o aumento no número de pessoas que trabalham sem carteira assinada ou por conta própria no Brasil.
A estudante Júlia Caxias trabalha como vendedora ambulante. Antes disso trabalhou cinco anos com carteira de trabalho assinada até assumir a barraca da prima que conseguiu um emprego depois de terminar a faculdade. A barraca no centro da cidade veio após Júlia ter trabalhado vendendo roupas e louças. “Prefiro ter uma coisa que seja minha, que eu trabalhe, tome de conta. Algo meu, que eu cheguei, batalhei e conquistei”, confidenciou.
Para ela, o melhor benefício de trabalhar como autônoma é todo dia ter dinheiro. “Não é muito, mas todo dia tem”, revela comparando o atual momento com a época na qual trabalhou no Pólo Industrial de Manaus (PIM). “Passava o mês inteiro lisa (sic), trabalhando e lisa. No final do mês saía do banco só pra pagar”, relembra aos risos acrescentando que trabalhava muito e não tinha tempo para gastar o salário.
Ser o dono do tempo e da maneira de trabalhar foi uma das vantagens citadas pelo merendeiro Cosme Lopes Marinho, 40, há 15 trabalhando como vendedor de alimentos. “Quando a gente trabalha por conta própria, a gente chega na hora que quer e sai na hora que quer. No distrito, o cara tem hora pra entrar e pra sair”, avalia.
Há oito anos Marlete Gama de Oliveira, 29, começava a trabalhar como camelô no centro. Jovem e inexperiente para o mercado de trabalho, ela procurou, sem sucesso, um emprego formal e depois de não vislumbrar qualquer possibilidade de conseguir o emprego com carteira assinada, resolveu aceitar o convite da irmã e ajudá-la na barraca de camelô.
Marlete trabalhou durante dois anos com a irmã até se casar com um companheiro de profissão e assumir outra barraca. “O que eu tenho hoje consegui através dessa banquinha. Se trabalhasse como empregada, ganhando um salário mínimo talvez não desse. Tem essa vantagem. E eu posso trabalhar o dia que eu quiser ou puder, eu estou trabalhando numa coisa que é minha”, pondera.
Dono de uma banca de revistas na rua José Paranaguá há 15 anos, Legildo Macedo Serrão, 47, revela que se estivesse empregado hoje, não pediria demissão para trabalhar como autônomo. “Hoje em dia eu não pediria minha demissão. Porque o movimento agora não é tão bom. No atual momento é melhor ficar empregado. Tem vários concursos que dão estabilidade. Aqui a gente tem que está todo dia, não pode adoecer”, conta Legildo que trabalhou nove anos numa empresa de telecomunicações e outros oito numa empresa de metalurgia.
Dos 24 anos de vida da universitária Graciane Matos Libório, nove foram dedicados ao lanche da mãe no centro de Manaus. Demitida da empresa onde trabalhava, a mãe de Graciane investiu o dinheiro da indenização no novo negócio. Ani, como é conhecida pelos fregueses, diz que o trabalho a fez amadurecer. Ela não podia ficar em casa enquanto a mãe trabalhava.
Hoje o maior medo da estudante do primeiro período de Pedagogia é que uma mudança na administração pública afete o tratamento dado aos ambulantes. “Olhando pra trás, no tempo do Artur (Artur Virgílio Neto, prefeito de Manaus de 1988/1992), a gente fica com medo de sair de maneira violenta. Com questões de saúde não porque pagamos o INSS”, refletiu relembrando que nunca trabalhou com carteira assinada, apesar de já ter espalhado currículo por vários lugares.
Graciane revelou à reportagem que nunca sofreu preconceito por parte de amigos ou colegas de escola por trabalhar com a mãe no lanche. Mas se mostrou surpresa ao ouvir da professora universitária que o que ela e a mãe faziam não era certo. “Uma das professoras citou que isso não era profissão, que acha errado porque as pessoas pagam impostos, nós não pagamos. Mas se fosse cobrado nós pagaríamos, pagamos tantas coisas, porque não pagaríamos o imposto?”, questiona.
O estudo Economia Informal Urbana, realizado em 2003 pelo IBGE, revela que houve um crescimento de 10% no total de empresas informais se comparado ao último estudo feito em 1997. Nessa estimativa incluem-se trabalhadores por conta própria, pequenos empregadores, empregados com e sem carteira de trabalho assinada, além dos trabalhadores não-remunerados.
domingo, 20 de abril de 2008
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