quarta-feira, 17 de setembro de 2008

TRAIÇÕES POLÍTICAS NO AMAZONAS

Por Cliferthon Lucas

Os primeiros casos conhecidos de “traição política” no Amazonas datam da década de 50, quando o governador Álvaro Maia lançou Plínio Coelho, um jovem advogado, para substituí-lo no governo. Hábil articulador, Plínio cresceu politicamente e acabou “devorando” seu criador.

Plínio Coelho fez do funcionário público Gilberto Mestrinho um de seus secretários. Mestrinho, que se revelou um político hábil e carismático, tornou-se governador e rompeu politicamente com Plínio Coelho. Em 1964 Gilberto Mestrinho foi caçado no exercício do mandato de deputado por Roraima. Exilou-se no Rio de Janeiro e só retornou ao Amazonas com a anistia de 1978. No ano de 1982 reassumiu o governo na primeira eleição direta para governador, após o golpe militar. Por indicação de seu filho João Tomé, Gilberto nomeou Amazonino Mendes prefeito de Manaus.

Gilberto dava como certa a indicação do professor de Inglês Manoel Ribeiro como seu provável sucessor em 1986, mais foi Amazonino o escolhido de última hora, derrotando o candidato da coligação “Muda Amazonas”, Arthur Neto. Em 1988, Gilberto Mestrinho se candidatou a prefeito e foi derrotado por Arthur Neto. Durante a campanha eleitoral, Arthur tinha afirmado que, se eleito, um dos seus primeiros atos seria conduzir Gilberto Mestrinho para a penitenciária por tráfico de drogas. Mostrou, inclusive, as algemas que seriam colocadas nos braços de seu opositor. Uma década depois Arthur e Mestrinho faziam parte da coalizão do governo de Fernando Henrique Cardoso. Naquela eleição, Amazonino foi acusado por partidários de Gilberto de ter feito corpo mole na campanha.

Em 1990, Gilberto e Amazonino voltaram à cena política juntos e haviam jurado governar o Amazonas por 20 anos consecutivos. Gilberto Mestrinho se elege governador pela terceira vez e Amazonino ganha à eleição para o Senado Federal. Amazonino é novamente acusado de ter feito corpo mole.

Nas eleições de 1992, Amazonino interrompe o mandato de senador e volta a Manaus como candidato a prefeito. O governador Gilberto Mestrinho, o prefeito Arthur Neto e empresários haviam lançado o economista Sergio Cardoso como candidato. Mestrinho, de última hora, fez Cardoso renunciar à sua candidatura e lançou o deputado José Dutra, de pouca densidade eleitoral. Amazonino teria pressionado Gilberto a desistir de um candidato mais viável sob ameaça de denunciar irregularidades na construção da cobertura do Sambódromo, que desabara poucos meses antes da eleição.

Havia sido dada como certa a indicação de Klinger Costa na chapa de Amazonino. Mas a convenção partidária indicou o deputado federal Eduardo Braga como vice na coligação. Gilberto rompeu com Amazonino e este procurava organizar um grupo político que fizesse frente ao de Gilberto Mestrinho, que havia se alinhado a Arthur e a oposição no estado.

Em 1994, Amazonino que havia feito obras de impacto público e realizado uma grande propaganda das ações da prefeitura, não encontrou dificuldades para vencer as eleições estaduais. Eduardo Braga assumiu a prefeitura em 1995, e, acelerou o ritmo das obras em parceria com Amazonino e aguardava a oportunidade de sucedê-lo em 1998.

O mandato de Eduardo acabou em 1996 e Amazonino indicou Alfredo Nascimento para a prefeitura de Manaus, que teve Eduardo Braga como principal cabo eleitoral. Por apenas 1, 500 votos Alfredo venceu o socialista Serafim Corrêa (PSB). Assim que assumiu, Alfredo teria passado a perseguir amigos e empresas de pessoas vinculadas a Braga.

A emenda constitucional que permitiu a reeleição do presidente da República e de governadores fez Amazonino mudar de idéia e concorrer à reeleição. Braga rachou com o governo estadual e disputou a eleição de 1998 contra o próprio Amazonino, tendo como candidato a vice o economista Serafim Corrêa.

No pleito de 98, Amazonino venceu com dificuldades a chapa Eduardo-Serafim. Essa eleição foi importante porque pela primeira vez, Amazonino perdeu na capital. Conseguiu sua reeleição graças aos votos do interior, inclusive a festa de comemoração da sua coligação foi na cidade de Manacapuru. Gilberto Mestrinho que estava rompido com ele desde o início dos anos 90 elegeu-se senador na mesma chapa.

A eleição municipal de 2000 destacou-se pela divisão da oposição. Eduardo disputou a prefeitura contra Alfredo (que buscava a reeleição) sem o apoio de Serafim, que também disputou aquela eleição e sem a adesão do PCdoB, que lançou Eron Bezerra. Serafim não pediu votos para Eduardo no segundo turno por acreditar que Braga era candidato laranja. Que já estava alinhavado com Amazonino novamente. Alfredo venceu com uma diferença de mais de 10 mil votos. É importante ressaltar que Eduardo Braga se uniu ao então deputado federal Arthur Neto e conseqüentemente herdou o tempo de televisão do PSDB.

Dois anos depois, nas eleições estaduais de 2002, Amazonino confirma as palavras de Serafim e apóia Eduardo Braga na sua sucessão. Gilberto Mestrinho que havia rompido com Amazonino também lança sua candidatura ao governo. Usando toda a máquina do estado em seu favor, Eduardo Braga vence em primeiro turno tendo como vice, Omar Aziz do PFL, partido governista. A oposição que mais uma vez dividiu os votos e alcançou 46% contra 52% do candidato de Amazonino.

Em 2004, foi à vez de Amazonino experimentar a facada nas costas. Eduardo, que foi eleito governador com sua ajuda, fez corpo mole em sua campanha para a prefeitura. Amazonino só contava com uma das máquinas, apenas o prefeito-tampão Alberto Carijó, que havia sucedido Alfredo quando este foi para o Governo Federal injetou dinheiro na sua candidatura. Erros estratégicos e a lambança de um vereador fizeram Amazonino conhecer pela primeira vez, a derrota. Por uma diferença de 25 mil votos, Serafim venceu o ex-governador. O socialista derrotou um palanque com os maiores caciques políticos do estado; Gilberto, Eduardo e Amazonino.

O pleito de 2006 colocou pela segunda vez, mas, em circunstâncias diferentes Amazonino e Eduardo Braga. O segundo, agora no cargo de governador, devolveu a derrota de 1998 e venceu seu adversário, que semanas antes pedira desculpas a população por tê-lo apoiado quatro anos atrás em uma entrevista numa emissora de televisão. O já senador Arthur Neto também disputa o cargo de governador, mas, consegue índice eleitoral baixo e fica em terceiro lugar. Porém, começa uma campanha contra Eduardo, fazendo acusações sobre supostos crimes de corrupção em seu governo. Alfredo Nascimento deixa momentaneamente o cargo de ministro para voltar posteriormente com o diploma de senador debaixo dos braços. Gilberto Mestrinho novamente é traído e não consegue sua reeleição. Uma vez que Eduardo Braga, do seu PMDB, apóia veladamente Alfredo ao senado.

Em 2008, Eduardo lança seu vice, Omar Aziz, para concorrer ao cargo de prefeito contra Serafim e Amazonino. A oposição novamente sai rachada com PT lançando candidatura própria e PC do B, que historicamente sempre foi um partido esquerdista, apoiando o direitista Omar. Serafim, que teoricamente deveria receber apoio dos esquerdistas é socorrido pelos direitistas PSDB e DEMOCRATAS.

Até o final destas eleições muitas traições ainda vão acontecer e uniões que hoje são impensáveis serão feitas pelo bem comum de determinado grupo político. É o dinamismo político.

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