terça-feira, 28 de outubro de 2008

MANAUS MENINA

*Ellza Souza

São 339 anos de existência. Muitas gerações se passaram e o que melhorou na vida dos habitantes da cidade de Manaus? Boa pergunta para uma triste resposta. Primeiro eram incontáveis aldeias indígenas com um conhecimento bem avançado em várias áreas. Essas etnias foram exterminadas com a chegada do descobridor ou invasor. Depois a região à margem esquerda do rio Negro tomou um jeito de povoado ou aldeia mesmo. Sem estrutura nenhuma, sem mão de obra, sem governo. Os poucos índios que restaram eram discriminados e considerados “preguiçosos”. Mais tarde “descobriram” a seringueira e com ela a utilização da borracha no mundo moderno. Foi o “boom”. De um amontoado de casebres à beira do rio a cidade foi tomando outra forma. Ruas mais largas, igarapés aterrados, mão de obra européia, serviços de água, luz e transporte ingleses, o cavalo sendo substituído pelo bonde, construção de palácios para os barões da borracha e autoridades. O povo foi sendo empurrado para longe. Para o outro lado do rio onde formaram bairros como o São Raimundo e o Educandos.

Nesse período era comum “torrar” dinheiro por aqui. O desperdício era grande. Não se pensou no futuro. A farra durou pouco. Em 20 anos tudo estagnou novamente. A miséria se instalou na cidade. Os ingleses se foram, os nativos não levaram a sério o trabalho e tudo voltou à estaca zero. Veio então a zona franca em 1967 e com muito incentivo trouxe um novo modelo de desenvolvimento para a cidade. Começou novamente a ilusão da riqueza. Todo o interior do Amazonas veio para a cidade explodindo demograficamente as periferias que, sem autoridades zelosas, se transformaram no caos que é hoje a nossa cidade. Todos os serviços públicos não funcionam a contento. Nenhum. Estadual ou municipal. Transporte, saúde, cultura, educação, lazer, menor abandonado, segurança, drogas, limpeza pública. Tem dinheiro para tudo isso pois as pessoas de bem pagam impostos rigorosamente em dias mas não se entende como isso não retorna em benefício dos cidadãos.

As obras faraônicas continuam. O dinheiro é abundante para elas. Só que na época da borracha faziam belas construções, com arte, com estilo, apropriadas para nosso clima. Hoje se faz prédios feios, sem beleza, visando apenas o lucro e pior devastando e matando passarinhos. O problema é que os serviços que deveriam funcionar nesses prédios não funcionam e o povo só é lembrado na “época das promessas”. O pronto socorro que acabou de ser reformado vai agora ser ampliado. O funcionamento do “vinteoitão” é precário, sem equipamentos e pessoal qualificado e a população sofre na fila para o “pronto atendimento”. A educação é a pior possível. Prédios como sempre até bem conservados mas a qualidade do ensino deixa a desejar. Isso sem falar na merenda escolar que quase sempre é desviada das escolas mais necessitadas. A limpeza pública segundo as autoridades existe, mas ninguém vê. O berço da Manaus menina fede. O lixo se espalha pra todo lado. O rio, só Deus mesmo para salvá-lo. Os motorzinhos inocentes jogam de tudo nessas águas que nos servem tanto.

O habitante e o governante da cidade são os responsáveis pelo caos instalado nela. Tá certo que se tivesse vontade política e educação eficiente, tudo poderia mudar. E os 340 aninhos poderiam ser comemorados com mais categoria e um povo mais feliz. Parabéns, manauenses, apesar de tudo.

* Ellza Souza é jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Roteirista e escritora.

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