Transporte coletivo: novela macabra

Foto: Bruno Kelly/A Crítica

Luiz Guilherme

O transporte coletivo de Manaus nunca foi um rio de vitórias-régias, e só tem piorado nos últimos anos. A passagem é cara e o serviço é péssimo. Já cansei de ouvir de alguns colegas que o transporte público em outras capitais brasileiras é muito melhor, que a passagem é mais barata, que o ônibus não demora tanto etc. Lembro com a saudade de um ancião de 90 anos da época que a passagem custava R$1,00 e os estudantes pagavam R$0,50. Em 1999, a maioria dos coletivos tinham ar-condicionado e, em alguns ônibus como o da linha 015, o passageiro poderia viajar assistindo clipes musicais. Certa vez, cheguei a assistir, num desses ônibus, Elton Jonh cantando "Can You Feel The Love Tonight", sucesso do cantor inglês que faz parte da trilha sonora do filme O Rei Leão (1994). Velhos tempos que não voltam mais.

O prefeito na época era o atual ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. E se na época dele houve uma certa ascensão no transporte coletivo local, na gestão dele houve também a queda. E tudo começou com o fracassado "Expresso". Desde então os passageiros manauaras pagam uma passagem caríssima para andar numa lata de sardinhas ambulante (cacarecos que vivem pregando), são obrigados a esperarem muito tempo nas paradas e, ainda por cima, estão sujeitos a encontrarem até baratas nos bancos dos coletivos.

Nas últimas semanas, o "igarapé poluído do transporte coletivo local" transbordou. Primeiro, os empresários quiseram reduzir o uso da meia passagem pelos estudantes. Resultado: protestos e trânsito caótico. Segundo, com a não redução, os empresários não "puderam" dar um aumento aos rodoviários. Resultado: greve (70% da frota paralisada) e multidões nos pontos de ônibus disputando a tapas um lugar num dos 360 ônibus que ainda circulavam pela cidade. Agora, os empresários querem aumentar de qualquer jeito a tarifa do ônibus, que há dois anos não sofre reajuste - protestos vem por aí. E essa novela macabra, pelo jeito, está longe de terminar.