Mentir: até que ponto é normal?

Por Annyelle Bezerra

A mentira faz parte da vida do ser humano. É utilizada para agradar pessoas ou escapar de situações desconfortáveis. Mas o que fazer quando mentir se torna uma doença?

De acordo com a psicóloga, Simone Russo, o que irá diferenciar a mentira patológica ou pseudolalia da mentira branca – aquela socialmente aceita – é a ausência de culpa, a intencionalidade e a freqüência com que o indivíduo pratica o ato. Mas é preciso esclarecer, a pseudolalia não é uma doença, e sim o sintoma de outras patologias mentais. Pessoas submetidas durante a infância a autos índices de disciplina, assim como indivíduos com baixa auto estima são mais propensos a desenvolver o sintoma. “Uma pessoa que se sente inferiorizada pode usar a mentira para criar um ideal de pessoa” explica Russo.

O mentiroso compulsivo nem sempre tem noção de que está mentindo, o que o leva a acreditar em suas fantasias e considerá-las realidade. Furos nas histórias, comportamento desafiador, dificuldade em respeitar normas, ausência de limites e de preocupação com os outros são algumas das características para detectar o mitomaníaco.

Para que haja o tratamento da mentira é necessário, em primeiro lugar a identificação da doença de base responsável pela sua manifestação. A psicoterapia em conjunto com o uso de remédios é utilizada como controle, pois assim como os transtornos mentais a pseudolalia não possui cura.

Adolescentes e adultos apresentam a “doença” com maior freqüência que as crianças, pois somente a partir dos 5 anos de idade o ser humano é capaz de discernir a realidade da fantasia. O desenvolvimento nos adultos é considerado pelos especialistas mais puro, se comparado ao dos adolescentes, que estão passando por mudanças hormonais.

Além do sofrimento pessoal, a pseudolalia pode prejudicar o desempenho escolar, o relacionamento familiar, profissional e amoroso, ocasionar fugas de casa (no caso dos adolescentes) ou envolvimento com atos ilícitos.

O que é Psicoterapia?

A psicoterapia é uma das práticas da psicologia que busca por meio do auto-conhecimento melhorar as relações do indivíduo com os outros e consigo mesmo.
“(...) refere-se à aplicação de procedimentos psicológicos, derivados de modelos que integram ciência, teoria e prática, fundamentados em aspectos cognitivos, emocionais, comportamentais, biológicos, psicológicos e sociais do funcionamento humano, de uma perspectiva etiológica e segundo modelos de desenvolvimento que abrangem fatores transculturais, sociais e econômicos, com a finalidade de explicar, prever e aliviar transtornos, deficiências e angústia, bem como promover o desenvolvimento integral e o ajustamento pessoal de indivíduos, através de métodos e técnicas de avaliação, planejamento e invenção.” (MASCARENHAS, Eduardo – Grupo sobre grupo – Editora Racco, p.25, 1987)

Patologias mentais associadas à pseudolalia

Síndrome de Munchhausen: o indivíduo não suporta ser comum e utiliza a mentira para chamar atenção para si. Nesses casos é normal a criação de doenças imaginárias, mas que apresentam sintomas reais. Algumas pessoas chegam a ser operadas várias vezes. Por se tratar de uma síndrome pouco conhecida o diagnóstico leva muito tempo para ser confirmado.Transtorno Anti-social da personalidade: também conhecido como personalidade psicopática.

Os portadores desse transtorno, os psicopatas fazem da mentira seu instrumento de trabalho. São capazes de mentir olhando nos olhos, sem motivo aparente e com total ausência de arrependimento.