sexta-feira, 28 de março de 2008
De Frente Com o Poeta
Ar sério, respostas profundas, crítico da sociedade brutalizada e defensor ferrenho da leitura como instrumento transformador da vida do ser humano, assim é o escritor amazonense Tenório Telles. Natural de Anori (AM), Tenório, na adolescência, já rabiscava os primeiros poemas, incentivado por um professor do antigo segundo grau. Formou-se em Letras pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), é professor de Literatura Brasileira e há dez anos é editor da Editora Valer, selecionando livros para publicação e ao mesmo tempo ganhando, ao longo desses anos, alguns desafetos que não aceitaram a rejeição de suas obras. Tem 12 livros publicados e escreveu uma peça teatral (A Derrota do Mito) que para ele foi um exorcismo de tudo que o inquietava. O poeta defende a criação de bibliotecas nos bairros e não dispensa elogios quando se refere aos escritores e a literatura amazonense. Tudo isso e muito mais Tenório Telles disse nessa entrevista exclusiva à Babel*.
Babel – Como e quando você decidiu ser escritor?
Tenório Telles – (breve silêncio) A minha opção em estudar literatura aconteceu como resultado de uma experiência que eu tive com o Professor Valadares, um homem apaixonado por literatura, no antigo segundo grau. Ele conseguiu contagiar não só a mim como aos outros alunos também, despertando o gosto pela leitura e poesia. Não só isso como estimulava, também, a gente a escrever. A partir desse contato com ele, eu decidi fazer o curso de Letras com o objetivo de ter uma proximidade com a literatura, pensando na possibilidade de ser escritor, mas eu imaginava que era um objetivo muito distante; achava que eu não ia conseguir escrever como os outros autores escreviam. Depois você vai vivendo e vendo que não é nada disso, que tudo é um aprendizado. Com o tempo, também, cai aquele mistério que envolve as pessoas que lidam com a arte; vê que eles são pessoas de carne e osso, e que escrever não é algo de outro mundo. Na universidade eu comecei a escrever, verdadeiramente, os primeiros ensaios e poemas. Foi aí que eu publiquei meu primeiro trabalho artesanal feito na universidade em 1988. Fiz o meu próprio livro com os colegas e nós lançamos numa Semana de Letras, foi uma experiência muito interessante. A partir daí pronto, eu comecei a escrever com mais freqüência.
Babel – Há quanto tempo escreve e quantos livros seus já foram publicados?
Tenório Telles – Desde 1988, há exatamente 19 anos. Tenho 12 livros publicados.
Babel – Como você define poesia?
Tenório Telles - A poesia, não só como a arte da palavra, é uma expressão daquilo que o ser humano tem de mais essencial. É a fala do silêncio. A revelação de todos os segredos que a existência pode encerrar. Os poetas não só traduzem a vida em palavras, mas conseguem também traduzir os segredos que fazem parte da vida. Sem ela, a vida seria muito triste e despojada de magia e encantamento. Os poetas são os homens que têm essa capacidade de, não só atribuir sentido a existência, mas de encantá-la com seus versos.
Babel – O que a poesia representa para você?
Tenório Telles – É o que me mantêm vivo hoje. Viver numa sociedade cruel e brutalizada como essa é muito difícil, de modo que a poesia embeleza um pouco as coisas. Ajuda-nos a viver. Ela, pra mim, é uma necessidade existencial.
Babel – Que poetas influenciaram o seu trabalho?
Tenório Telles – No primeiro momento da minha caminhada eu gostava de alguns escritores românticos, que hoje eu não tenho mais afinidade, como Álvaro de Azevedo, Casimiro de Abreu e Castro Alves. Depois, a gente vai lendo, aprendendo, melhorando, e descobre outros escritores. Eu descobri aquele que seria o mais significativo da minha história: o Carlos Drumonnd de Andrade, que eu considero o grande poeta do século XX da literatura universal. Para mim, Drumonnd é o poeta que melhor conseguiu traduzir as angústias e as esperanças do ser humano. Além dele, eu gosto muito do Fernando Pessoa, que soube expressar através de sua poesia as apreensões do ser humano diante desse mundo tão conturbado. Hoje gosto cada vez mais do João Cabral de Melo Neto. O que me encanta muito nele é o cuidado que ele tem com a linguagem; a consciência do fazer poético. Eles não tiveram uma influência direta, mas através da leitura desses autores, eu adquiri uma profunda consciência do que deve ser a poesia e, sobretudo, uma compreensão da própria situação do ser humano no mundo.
Babel – Você se sente integrante de alguma escola literária?
Tenório Telles – Não. Eu não tenho essa preocupação de fazer parte de uma escola. Vivemos numa época que não existe, pelo menos intencionalmente, uma escola literária em vigência. É uma época indefinida e ambígua, que alguns teóricos chamam de período pós-moderno: tem muitas identidades e manifestações, algumas até opostas, mas que convivem dentro desse grande espectro, que é o momento atual da cultura humana. A minha grande preocupação é trabalhar para ajudar a construir uma nova consciência sobre a sociedade, porque eu acredito que a cultura pode contribuir para mudar a vida das pessoas. Tudo que eu faço é com o intuito de achar que, pelo menos motivado pela ilusão, esses textos que eu escrevo, podem de alguma forma, tocar o coração dos homens e despertá-los para a necessidade de uma atitude crítica em relação à sociedade.
Babel – Como você avalia a literatura amazonense?
Tenório Telles – A literatura que se produz no Amazonas é uma das mais ricas do país. Nós temos grandes escritores e a tradição muito forte em termos de poesia. Infelizmente, nós somos um estado periférico e, de um modo geral, as outras regiões não conhecem o que se produz aqui, mas ouso dizer que, ainda hoje, temos alguns poetas que estão no mesmo nível de um João Cabral de Melo Neto ou Ferreira Gullar, como por exemplo, Luiz Bacelar, um poeta excepcional; Alencar e Silva, um poeta muito especial; nós temos um autor como Elson Farias, que deu uma contribuição importante na poesia; Faria de Carvalho (já falecido), um poeta talentoso, como uma poesia tão expressiva. Infelizmente, são autores que não tiveram a aventura de serem reconhecidos pelos leitores do país, embora sejam aqui. Então eu vejo que a literatura do Amazonas tem um valor muito expressivo. E na prosa nem se fala, pelo menos dois dos grandes escritores brasileiros são amazonenses, como é o caso do Márcio Souza e do Milton Hatoum. Então se você fizer, hoje, um estudo da literatura brasileira em termos de prosa, entre os grandes autores da atualidade, esses dois amazonenses figurarão entre os mais destacados. Isso serve para ilustrar o valor que a literatura amazonense tem.
Babel – Onde precisa melhorar?
Tenório Telles – Eu penso que a educação precisa melhorar, para que os jovens possam ter acesso aos livros e com isso ter a sua paixão despertada. Assim teremos no futuro novos escritores e daremos continuidade a essa tradição que nós conseguimos manter até aqui. O grande desafio hoje é tentar criar bibliotecas nos bairros para que as pessoas, em especial a juventude, possam ter contato com os livros. Existem muitos jovens talentosos que, ás vezes, não conseguem desenvolver o talento porque falta um aprimoramento. A leitura é fundamental nesse aspecto, pois ninguém se torna escritor do nada. Pelo contrário, um escritor surge de um longo trabalho de esforço e estudo. Não basta apenas ter habilidade. Talento desacompanhado de trabalho é inútil.
Babel – Qual a função da literatura na vida das pessoas?
Tenório Telles - A função da literatura é a mesma função das demais artes. A literatura tem um caráter muito especial. Não é só informar, mas também é entreter, é aprofundar a sensibilidade das pessoas. Eu penso que a literatura pode cumprir um papel relevante no sentido de ajudar no aprimoramento espiritual do ser humano. Sem falar que ela também lida com os aspectos fundamentais da existência humana: imaginação, encantamento e magia, porque através dos livros você pode realizar uma das viagens mais essenciais da própria existência, que é através do mundo encantado das palavras. Lidar com elas é uma experiência determinante e definitiva na vida de qualquer pessoa.
Babel – Que poder tem um escritor?
Tenório Telles – O escritor não tem poder nenhum. O que ele tem é apenas um atributo fundamental: a sua arte. É essa capacidade de criar mundos de tinta e papel para que as pessoas viagem por eles.
Babel – Como você avalia seus primeiros trabalhos literários? Existe algum que você se arrepende de ter feito?
Tenório Telles – Muito ruins. Avalio meus primeiros trabalhos como uma criança que dá os primeiros passos, que tropeça muito, cai e que tem muita insegurança, por isso eu os queimei. No principio eu guardei, mas depois que eu amadureci, li esses trabalhos e percebi que na verdade era apenas um exercício. Descartei-os porque não tinham valor nenhum do ponto de visto do que eu penso ser a arte e o trabalho com a palavra. Mas foram importantes porque, afinal de contas, ninguém nasce escrevendo obras-primas. Então, a exemplo do que ocorre com quase todas as pessoas que escrevem, meus primeiros textos eram muito infantis. Contudo, não me arrependo de ter feito esses textos porque tudo na vida são processos. Naquele momento eu não poderia escrever outras coisas, era aquilo que eu tinha condições de escrever. A criação está muito associada com o amadurecimento, e na época eu era praticamente uma criança.
Babel – Como surgiu a idéia da peça teatral “A derrota do Mito”?
Tenório Telles – Eu sofri muito para escrever esse texto. Porque na verdade eu escrevi numa fase que eu não sabia lidar direito com o meu desespero, por isso tem um caráter de negação dessa sociedade tão cruel e brutalizada. Esse texto nasceu como um longo poema falando do poder, da destruição da vida, da intolerância; depois se transformou numa peça. Eu me lembro que eu li, há muitos anos, uma passagem do ensaio de um antropólogo que me deixou muito inquieto porque falava da conquista dos povos da América pelos espanhóis e portugueses, sobretudo dos Incas e Astecas. Eu li que alguns povos, quando entravam em conflito com os conquistadores, e conseguiam abater algum soldado, costumavam abrir o peito dos inimigos, arrancavam o coração e colocavam um bloco de pedra no lugar. Com isso, eles queriam metaforizar toda a crueldade dos conquistadores. Eu fiquei muito inquieto com isso, então eu quis escrever um texto que retratasse essa maldade que tem marcado a própria história da civilização.
Babel – Você poderia resumir as idéias da peça “A Derrota do Mito”?
Tenório Telles – É uma peça que tem como fundamento essa reflexão sobre a humanidade; a perda da esperança; uma reflexão sobre o poder que tem sido a causa de muitas misérias. É também uma peça que discute a questão do progresso humano como algo negativo porque, infelizmente, se por um lado a gente tem conseguido produzir coisas excepcionais, por outro lado, a gente tem percebido que isso não resultou no usufruto desses bens por parte da sociedade, e o resultado disso tem sido uma sociedade consumista com milhões de pessoas com o ser humano cada vez mais solitário e infeliz. Discute também a questão da alienação e da indiferença. Mas não fica limitada em discutir isso, pois é também, uma peça sobre esperança, porque mostra que há possibilidade de um novo caminho.
Babel – Escrever uma peça teatral significa também ver de perto a reação de seus leitores? Foi essa a sua intenção?
Tenório Telles – O que me causou muita satisfação é que essa peça gerou muitas reações. Muitas positivas e também negativas. Teve um pastor que assistiu à peça e disse que eu era um defensor do diabo, um dos personagens da peça, e discute justamente com um pastor. A peça ficou três anos em cartaz, sempre com uma boa platéia, principalmente de estudantes. Foi um texto que naquele momento cumpriu um papel e para mim foi uma espécie de exorcismo de tudo que me inquietava.
Babel – Na sua avaliação qual é a situação atual da dramaturgia amazonense?
Tenório Telles – É um momento de resistência. As pessoas que lidam com teatro no Amazonas são pessoas heróicas. Não é fácil trabalhar aqui porque não temos uma platéia que dê sustentação ao trabalho dos artistas. É preciso trabalhar um pouco mais nas escolas, principalmente com os jovens, para formar o gosto pelo teatro e assim eles comparecerem para assistir aos espetáculos.
Babel – Qual a importância da crítica literária?
Tenório Telles – A crítica tem um papel indicativo e de discussão sobre o que está sendo produzido, até para facilitar a escolha do leitor, pois ele não tem condições de ler tudo. Ela ajuda a separar o joio do trigo porque um crítico bem preparado é fundamental até para educar as pessoas que estão envolvidas no processo. Por essa relevância que ela passou a ter na sociedade, a própria crítica se transformou num gênero literário.
Babel – Como é a sua relação com a crítica?
Tenório Telles – É uma relação serena. Eu não me impressiono mais, como antigamente, quando alguém falava mal de mim. Com o tempo a gente vai aprendendo a lidar e ver que isso também é bom porque você não é perfeito, e acaba chamando a atenção para determinadas falhas que nem você tinha consciência.
Babel – Você pensa no leitor ao escrever?
Tenório Telles – Não. Quando surge a oportunidade de escrever um texto, nesse momento me importa fazê-lo da melhor maneira possível, para que, de alguma forma, ele consiga ser a expressão daquilo que eu estou sentido. Se o escritor consegue escrever um texto verdadeiro, por certo que ele vai agradar o leitor; eu acho que a verdade e a beleza agradam qualquer pessoa.
Babel – Que imagem você tem dos seus leitores?
Tenório Telles - De modo geral, a imagem que eu tenho dos poucos leitores que lêem meus textos (risos), é do leitor generoso, humano e que sonha com um mundo diferente.
Babel – Como é que você trabalha?
Tenório Telles – Cada vez que você vai trabalhar um texto é diferente. De qualquer modo eu preciso estar motivado. Normalmente eu começo a sentir dentro de mim, como uma mulher esperando a hora de dar a luz. Surge a idéia de um texto e ele fica lá dentro de mim, dias e semanas. Quando chega um dia aquela idéia quer nascer, aí eu sinto aquelas palpitações e construo o texto na minha cabeça. Vêm frases e imagens; é nesse momento que eu costumo me recolher no meu escritório e lá eu consigo viver o meu parto. Eu gosto muito da solidão, pois tenho dificuldade de criar no meio de muita gente.
Babel – Quais são as suas fontes de inspiração?
Tenório Telles - Meu grande referencial em termos de criação é a própria vida. Escrevo sobre coisas que eu vejo, leio, ouço; coisas que eu vivi e ainda vivo hoje.
Babel – Seu processo de criação mudou com o passar do tempo?
Tenório Telles – Mudou muita coisa. Antes eu só escrevia a mão, não conseguia escrever no computador. Fazia muitas leituras antes de escrever. Tudo na vida muda permanentemente.
Babel – Como é ser escritor num estado onde as pessoas não têm o hábito da leitura?
Tenório Telles – É um pouco frustrante, não pela questão da vaidade, mas pela questão do processo. Quando você não tem leitores, o método da criação é prejudicado por não ter como viabilizar a sua produção. Para produzir um livro você tem que fazer um investimento, e é alto em termos financeiros. Imagine gastar 10, 12, 15 mil para fazer um livro que não vai ser lido. Do ponto de vista da criação, pelo menos para mim, isso não me aflige. Eu não sofro por ter um, dois ou nenhum leitor, até porque escrever é uma necessidade imperativa minha. Escrevo para me manter vivo, preciso dizer o que eu sinto. É claro que, se vivêssemos em uma sociedade onde as pessoas gostassem de ler, isso daria uma outra dinâmica à vida cultural da cidade. Daria evidentemente mais satisfação a quem escreve.
Babel – Você já pensou em morar em outro estado?
Tenório Telles – No passado sim, mas hoje não penso mais. Se assim for, eu vou para passar um tempo e volto pra cá porque eu não consigo viver em outro lugar. Eu gosto de viver aqui, pertenço a esse chão. Quando eu tô por aí eu fico inquieto. É como se fosse uma árvore sem raiz.
Babel – Que escritor você indicaria para o Jabuti ou Nobel?
Tenório Telles – Foi uma grande injustiça a academia sueca não ter dado o Nobel ao Jorge Amado. Por que não ter dado também aos grandes poetas brasileiros como: Carlos Drumonnd, Manoel Bandeira e João Cabral. Hoje penso que eles ainda podem reparar essa injustiça com a literatura brasileira dando, quem sabe, o Nobel ao Ferreira Gullar.
Um escritor amazonense que merecia ganhar o Jabuti pelo seu trabalho é o poeta Luiz Bacelar.
Babel – Os prêmios literários são importantes para o escritor?
Tenório Telles – Os prêmios literários cumprem uma função de promover a obra do escritor, mas o que importa é o trabalho dele. Tantos escritores maravilhosos não ganharam prêmio nenhum.
A preocupação dele não deve ser com prêmios e sim em realizar sua obra da melhor maneira possível, pois eles não tornam ninguém nem melhor nem pior.
Babel – O escritor é um ser solitário ou deve ter uma responsabilidade social?
Tenório Telles – De modo geral, o escritor é um ser solitário por conta das circunstâncias da sua própria arte. Escrever é um ato solitário. Agora, ele não pode perder de vista que ele faz parte do mundo, portanto ele tem responsabilidades e compromissos. O escritor, tendo ou não muitos leitores, é um formador de opinião, o que ele diz vale na sociedade. Se ele tem essa capacidade de influenciar a percepção das pessoas, deve, na medida do possível, influenciar positivamente, despertando a atenção das pessoas para questões relevantes.
Babel – Qual o papel do intelectual amazonense no século XXI?
Tenório Telles - Os intelectuais amazonenses devem se preparar para participar desses debates a respeito do futuro da Amazônia, que tanto chama a atenção do mundo por suas riquezas. Precisamos de intelectuais com um profundo conhecimento a respeito da nossa realidade para que eles possam defendê-la de maneira muito mais conseqüente e não ser apenas um mero espectador dos debates sobre a nossa região.
Babel – O que é para você cultura de massa? Rejeita-a?
Tenório Telles – É uma cultura feita sem muito critério, que é vendida à sociedade através dos meios de comunicação, para o consumo imediato. Não contribui em nada para despertar o senso crítico das pessoas. Eu não tenho nenhuma afinidade com essa cultura, meu posicionamento em relação a ela é crítico.
Babel – Como você se define politicamente?
Tenório Telles – Eu sou aquilo que se chama hoje de dinossauro, porque nessa época em que as pessoas se guiam pelo consumismo, eu continuo acreditando em certos valores que não são cultivados nessa sociedade. Eu sou de uma geração em que as pessoas eram idealistas e continuo acreditando na possibilidade de viver em um mundo diferente. Do ponto de vista político, sou uma pessoa de esquerda. Eu continuo sonhando com a utopia, não só sonhando, mas tentando lutar por esses valores.
Babel – De seus livros, quais são os seus preferidos?
Tenório Telles – Eu sou um aprendiz, não considero que tenha escrito nada de tão significativo. Tenho tentado me preparar para escrever coisas mais expressivas. Acho que fiz duas coisas relevantes até hoje: a peça “A derrota do Mito” e um CD-ROM que fiz sobre literatura amazonense. Uma contribuição importante, como registro de nossos poetas e escritores, pois contem depoimentos e conserva do esquecimento a voz de muitos poetas que já morreram.
Babel – Em algum momento você já pensou em parar de escrever?
Tenório Telles – Sim. Já tive momentos de temor de achar que eu não iria conseguir fazer o que eu imaginava. A arte é um território cheio de contradições e angústias, e isso todos os artistas vivem. Além do mais, tem a questão da sobrevivência porque dificilmente um artista consegue ter as condições materiais necessárias para se dedicar integralmente à sua arte.
Babel – Quais são os seus próximos projetos?
Tenório Telles – Eu tô muito envolvido agora em três projetos. Não tenho tido sorte em escrever um novo livro de poesias. Estou tentando há dez anos. Um ladrão entrou lá em casa e roubou meu computador e eu não tinha feito o backup. Assim eu perdi muitos poemas e não consegui relembrar de muitas coisas. Depois disso eu comecei a recompor esses textos escrevendo à mão. Deixei dentro de uma pasta, entraram no meu escritório e levaram essa pasta. Alguém, algum dia, deverá publicar esses textos como se fosse seu (risos), mas o que sobrou eu estou trabalhando e espero concluí-lo. Outro trabalho que vou concluir, que eu estava escrevendo com Paulo Graça, é um livro de história da literatura regional que já estava quase pronto, faltava alguns capítulos, mas o Paulo morreu e esse livro ficou incompleto. Ele vai completar dez anos de morto e agora vou criar vergonha para ver se ano que vem eu lanço esse livro para homenageá-lo. Também reunirei meus ensaios para publicar.
Babel - Há quanto tempo você é editor?
Tenório Telles – Há dez anos.
Babel – Como é o Tenório Telles editor?
Tenório Telles – Eu procuro me comportar com muito respeito pelo trabalho dos outros, mas tendo muito critério. O editor tem responsabilidade em observar aquilo que realmente vai representar uma contribuição à sociedade, do ponto de vista da informação e do estético. Infelizmente, quem trabalha nessa área editorial tem que lidar com a vaidade das pessoas, pois tem gente que não encara a literatura como algo sério; usa-a apenas como trampolim para se projetar socialmente. Mesmo assim, não trato essas pessoas com desrespeito. Pelo contrário, procuro entender isso como uma fragilidade humana, afinal, vivemos num mundo onde as pessoas têm que conviver com sua insignificância.
Babel – Você recebe muitos textos para serem avaliados?
Tenório Telles – Muitos. Eu diria que 90% do que eu recebo não tem qualidade nenhuma. O que me surpreende nisso tudo é a falta de senso crítico das pessoas, o que é indispensável num escritor.
Babel – De que forma um escritor desconhecido deve proceder para tentar publicar seus livros?
Tenório Telles – Primeiramente, ele deve preparar bem seu texto, organizar, ler, revisar e reescrever. Submeter esse texto a uma pessoa que conheça literatura, para que ele possa receber sugestões e depois submeter a uma editora para que ela examine.
Babel – Fale um pouco sobre a Academia Amazonense de Letras.
Tenório Telles – Estou há cinco anos na academia. É uma grande responsabilidade fazer parte dela, pois as pessoas passam a cobrar muito de ti e você tem que se preparar. Mas a academia não torna você pior nem melhor no ponto de vista intelectual. A academia gera uma demanda maior em relação a você, mas não encaro isso como vaidade.
Babel - Que conselhos você pode dar a um jovem escritor?
Tenório Telles – Eu não tenho conselho nenhum. O que eu posso dizer com base na minha experiência é que se alguém quer se dedicar à literatura precisa estar muito consciente do preço a ser pago, como o de viver numa sociedade ignorante onde as pessoas não lêem e onde os governantes têm desprezo por quem faz arte. O escritor tem que amar as palavras e os livros.
*Babel é o nome da revista feita pelos acadêmicos de Jornalismo do Centro Universitário do Norte (Uninorte) como trabalho para a disciplina Planejamento Gráfico em Jornalismo, ministrado pela professora Kasmin Bischaro no primeiro semestre de 2007.
quarta-feira, 26 de março de 2008
Dando uma espiadinha
Produtor de Pokémon e Naruto conta um pouco sobre o mundo das animações japonesas
Com o auxílio de uma tradutora, Keisuke contou um pouco dos bastidores de cada sucesso. Pokémon, por exemplo, começou com um game (as versões Green e Blue foram lançados no Japão em 1996), e como, na época, apenas os rapazes jogavam vídeo games, o personagem Pikachu foi escolhido para ser o protagonista - no game era apenas um coadjuvante - especialmente para atrair as garotas também. Além de relatar que o criador de Neon Evangelion, Hideaki Anno, é uma pessoa difícil e que ele é mais “louco” que o diretor de Kill Bill 1 e 2, o norte-americano Quentin Tarantino.
Antes de começar a palestra, Keisuke exibiu três curtas inéditos (dois de computação gráfica e um em 2D) do Festival Internacional de Animes de Tóquio. Os curtas, de acordo com o produtor, foram feitos por estudantes japoneses. E para um bom número de adolescentes e jovens que estavam no auditório, ele exibiu também um trecho da décima temporada de Pokémon. E para os fãs de Naruto, ele exibiu propagandas e três trailers para TV de filmes do anime, atualmente muito popular no Brasil. Foram os trailers dos filmes de 2005, 2007 e o inédito trailer de 2008, que nem os japoneses viram. “Os senhores são sortudos”, disse o produtor.
Ele deixou claro também que a parte de criação não é com ele, sendo que o produtor preocupa-se mais com as questões mercadológicas (o que vender e de que forma, o que o mercado quer...). Vale frisar que os animes de sucesso que ele produziu (Pokémon e Yu-Gi-Oh!, por exemplo) têm forte apelo comercial. Entre 1999 e 2002, por exemplo, era possível ver Pikachu e cia. estampados em vários tipos de produtos. Não é diferente com o atual sucesso, Naruto. Basta olhar as vitrines das lojas. Mesmo assim, ele disse que a pirataria e o site de vídeos Youtube têm afetado muito os lucros do mercado de animações.
Também, o “caçador de hits” (como se auto-definiu) relatou que está cada vez mais difícil achar a “galinha dos ovos de ouro”, ou seja, uma obra original que possa render um anime de sucesso mundial. Devido à escassez, Keisuke disse que tem peregrinado por outro terreno, pouco explorado ainda: os games.
Infelizmente, houve apenas cinco minutos para perguntas da platéia. Pouco para as muitas curiosidades que havia sobre o tema. Mas, vale destacar a pergunta de uma adolescente sobre a possibilidade de um mangaká (como é chamado o quadrinista japonês) brasileiro ter sua obra reconhecida no Japão e ser transformada num anime. Iwata foi bem realista e disse que ela deve se inscrever nos concursos promovidos no Japão. No entanto, ele contou que há milhões de japoneses que querem ter suas obras reconhecidas. "A chance de um mangaká japonês ter sua obra valorizada e transformada num anime é a mesma de alguém ganhar na loteria", disse.
No final da palestra, Keisuke Iwata foi cercado pelos jovens, autografou camisas e folhas de caderno, e posou para fotografias.
domingo, 23 de março de 2008
As Maiores Bilheterias
A dama do lotação (Neville de Almeida, 1978) 6.509.134
O Trapalhão nas minas do Rei Salomão (J.B. Tanko, 1977) 5.786.226
Lúcio Flávio, passageiro da agonia (Hector Babenco, 1977) 5.401.325
Os dois filhos de Francisco (Breno Silveira, 2005) 5.319.677
Os saltimbancos Trapalhões (J. B. Tanko, 1981) 5.218.478
Os Trapalhões na guerra dos planetas (Adriano Stuart, 1978) 5.089.970
Os Trapalhões na Serra Pelada (J. B. Tanko, 1982) 5.043.350
O Cinderelo Trapalhão (Adriano Stuart, 1979) 5.028.893
O casamento dos Trapalhões (José Alvarenga Jr., 1988) 4.779.027
Fonte: Ancine
sexta-feira, 21 de março de 2008
Cinema Brasileiro, sexo e palavrão
A idéia de que os filmes brasileiros resumem-se a sexo e palavrão é muito popular e contribui para a construção de uma imagem negativa do cinema nacional. Um fator co-responsável pelo desprestígio do cinema brasileiro. Nos filmes brasileiros, a inserção de palavrões e cenas de sexo é recorrente sim, tanto porque a erotização atrai parcela do público, quanto por questões culturais e comerciais. A televisão, a propaganda, a música, boa parcela dos produtos da indústria cultural apelam para a libido. A qualquer hora do dia ou da noite é possível escutar músicas com duplo sentido tratando de coelhinhos, periquitas e afins. A erotização está enraizada na cultura brasileira e sua exploração comercial é conseqüência de uma prática de mercado onde tudo é encarado como objeto de venda e consumo. A construção dessa imagem pejorativa da cinematografia nacional baseia-se, principalmente, na Pornochanchada.
Xuxa em Amor Estranho Amor (1982)
A Pornochanchada foi um movimento do cinema brasileiro inspirado nas chanchadas das antigas companhias cinematográficas paulistas, e em filmes pornô. A maior parte dos filmes foi produzido na região da Boca do Lixo, em São Paulo. Entre 1972 e 1982 cerca de 700 filmes foram finalizados. A Pornochanchada desenvolveu-se durante toda a década de 70 e foi muito lucrativa para os investidores sendo o mais próximo da industrialização que o cinema brasileiro viveu. O barateamento da produção e a grande bilheteria tornavam os filmes lucrativos. Devido ao baixo custo de produção, as cotas de patrocínio eram baixas e podiam ser compradas por pequenos comerciantes. A Pornochanchada lançou diversos nomes, mas poucos seguiram na carreira com a decadência do movimento, como as musas Sônia Braga, Lucélia Santos, Matilde Mastrangi, Aldine Muller e Vera Fisher, além da apresentadora de televisão Xuxa. A decadência da Pornochanchada está ligada ao processo de redemocratização do Brasil e esse fato gera discussões quanto a função alienadora dos filmes. Haja vista que o país vivia uma situação política delicada e o conteúdo das Pornochanchadas mantinha um distanciamento da questão político-social. Postura completamente oposta a dos cineastas do Cinema Novo, outro movimento da cinematografia brasileira.
Uma Câmera na mão, uma Idéia na Cabeça
O Cinema Novo acontece entre as décadas de 50 e 60 tendo como proposta um cinema com linguagem e temática engajadas politicamente. Os cineastas deste movimento sofrem influência do neo-realismo italiano e da nouvelle vague francesa. Do cinema italiano, a proposta de filmar nas ruas, com atores amadores, e retratando a realidade do pós-guerra europeu.
Enquanto o regime militar aumentava a repressão aos movimentos culturais, o Cinema Novo discutia as questões político-sociais brasileiras, a brasilidade, estabelecendo a estética da fome.
Os filmes foram veementemente censurados pelo regime sendo liberados para exibição no Brasil, apenas quando ganhavam prêmios internacionais, como aconteceu com 'Terra em Transe' de Glauber Rocha que ganhou o prêmio de crítica no Festival de Cannes e foi, posteriormente, liberado para exibição no Brasil.
Glauber RochaO Cinema Novo agrega Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Ruy Guerra, Cacá Diegues, Paulo César Saraceni e Walter Lima Jr.
A repressão militar eclipsou o movimento censurando os filmes. Além disso, a proposta de desvincular o cinema das questões comerciais fazia com que os cineastas não encontrassem produtores, dependendo das leis de incentivo à cultura do governo que o censurava. A utilização de uma linguagem experimental e a imagem de um cinema intelectualizado também colabora para o distanciamento do grande público do Cinema Novo.
O contraste entre a Pornochanchada e o Cinema Novo serve para desmistificar a idéia de que os filmes brasileiros se restringem a palavrões e cenas exaustivas de sexo. Há espaço para tudo e tem sido essa a preocupação dos cineastas contemporâneos. Fazer um cinema essencialmente brasileiro e diversificado.
Pesquisa: Giese Braun e Tabajara Moreno
Uma Aventura na Selva
Por Tabajara Moreno
“Corta, faz de novo, a queda não ficou boa!”, exclamou Amélia Serrão, 44, auxiliar administrativa e cineasta. Depois de insistir várias vezes na execução de uma cena, Amélia é alertada pela equipe de produção que o ator escolhido talvez não possa cumprir com as exigências do personagem e da cena em questão. A produção está decidida pelo cancelamento das filmagens e seleção de outro ator. A diretora titubeia, afinal, trocar de ator àquela altura prejudicaria muito as filmagens. Além disso, o ator é sobrinho dela e a principal locação do filme é a casa dele. E agora? Onde encontrar outro intérprete para continuar as gravações no dia seguinte? A cena foi refeita várias vezes, mas não funcionava. Algo precisa ser feito. Troca-se o ator e cancela as filmagens ou continua com o sobrinho e compromete o filme?
A equipe do curta-metragem “Parecença”, um dos vencedores do “Primeiro Concurso de Roteiros Artísticos do Amazonas”, promovido pela Secretaria Estadual de Cultura (SEC), estava num dilema real que poderia ser confundido com uma situação fictícia. Impelidos à aventura de finalizar um curta-metragem de cinco minutos, os realizadores de “Parecença” cumpriram inconscientemente as três etapas da jornada de um herói previstas pelo escritor estadunidense Joseph Campbell no livro “O Herói de Mil Faces”.
Campbell defende a existência do monomito (modelo universal de narrativa) no qual a trajetória do herói é comum em toda e qualquer cultura sendo marcada por pontos de conflito que movem o personagem na ação dramática.
Primeiro ato – Apresentação
A funcionária pública Amélia Serrão teve seu primeiro contato com produção audiovisual a partir de um curso de roteiro para cinema e televisão oferecido pelo Curso de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). “No curso, produzíamos em equipe roteiros de curta e documentário. Aliás, num desses momentos nasceu o 'Parecença'. Na adolescência, tinha assistido a um filme de suspense sobre um demônio que se disfarçava de amigo para devorar as pessoas. Não recordo o nome do filme. Só sei que na noite seguinte, quando vinha da escola, lembrei da situação e fiquei em pânico. A luz do poste apagou, começou a chover. Parecia que tudo conspirava para criar o clima tenebroso”, revela.
O curta-metragem “Parecença” foi a primeira empreitada de Amélia Serrão no cinema e, apesar de ser um curta de cinco minutos, deu muito trabalho. “Poderia ter sido melhor, mas faltou experiência”, conta.
Dias depois de se inscrever no concurso da SEC, Amélia recebeu o telefonema da Casa de Cinema confirmando a aprovação no edital. Dali a duas semanas, o curta tinha que ser entregue senão Amélia seria multada por quebra de contrato tendo de desembolsar R$ 2 mil. Amélia estava inconscientemente diante do ponto sem retorno, acabara de atravessar o primeiro limiar.
Segundo ato – Conflito
Mudar o protagonista do filme foi “fichinha” perto do que aconteceria nos dias seguintes da filmagem de “Parecença”. Após um breve teste, o motorista da equipe foi escolhido para, naquela mesma noite, protagonizar o filme. Mas a resolução desse primeiro problema não significou a ausência de novos empecilhos.
Amélia conta que o “Demônio de Sukubis” do filme devia mexer o rabo, mas a falta de recursos financeiros para criação de efeito especial levou a equipe a “aliciar” com leite, salsicha e ração, os felinos da vizinhança. “Pegamos um gato de verdade e o prendemos com uma toalha até ele mexer o rabo”, revela.
Outra situação insólita aconteceu quando a produção não pôde gravar a seqüência na qual a personagem Carla saía do cinema depois do susto com o “Demônio de Sukubis”. A direção de um shopping de Manaus havia autorizado com antecedência as filmagens, mas na hora de gravar, proibiu. Por causa disso, surgiu entre a equipe a idéia de irem ao centro da cidade tentar autorização para gravar nos cinemas pornô. “Foi complicado, porque lá também não deixaram filmar dentro do cinema. Só fora”.
E não foi só isso que atrapalhou as filmagens. Todos já haviam desistido de gravar no cinema quando entraram no carro para ir embora. Entretanto, para surpresa de todos, o carro pregou. Amélia e a filha Daniele Serrão, protagonista do filme, ficaram paradas na frente do cinema pornô enquanto o motorista procurava um mecânico. “Ficamos paradas e os caras dos carros (sic) mexendo conosco. Não foi legal”, relata.
A universitária Claudilene Siqueira, 30, começou a participar da cena audiovisual amazonense em 2005, quando fez parte da oficina de cinema e vídeo, ministrada por Júnior Rodrigues, no Centro Cultural Cláudio Santoro. O primeiro filme dela foi “Geyzislaine, meu Amor”, no mesmo ano.
Claudilene produz a maioria dos vídeos dos quais participa e revela: “no set de filmagem o imprevisível sempre acontece”. Quando, em 2006, produzia o curta-metragem “Dèjá Vu”, foi surpreendida minutos antes de ir para a locação. Na noite anterior, ela confirmou com os atores, o continuísta, os cinegrafistas e demais envolvidos e foi dormir tranqüila imaginando que nada atrapalharia as filmagens. Entretanto, no dia seguinte ela se assustou quando a atriz telefonou avisando que não ia mais filmar. “Tudo está acabado”, pensou. Além de protagonizar o filme, a pseudo atriz emprestaria o cachorro e o carro para a gravação. “Eu fiquei desesperada atrás de um cachorro, um carro e uma atriz”, conta, gargalhando.
Depois de algumas experiências audiovisuais, Claudilene acredita que, mesmo pré-produzindo cuidadosamente o filme, sempre haverá problema durante a gravação. “Achar que no set tudo vai dar certo é ilusão. Sempre o ator tá com dor de cabeça, a câmera pifou, o microfone não funciona, enfim”, afirma.
O último trabalho de Claudilene foi o curta “Vítimas S.A”, no qual a diretora do filme exigiu um revólver 38 de verdade. Claudilene já tinha conseguido a arma com um amigo, mas na hora de filmar, ele não apareceu e nem deu satisfações sobre o sumiço. As filmagens aconteciam na Rua Duque de Caxias, Praça 14, perto do Batalhão de choque da PM. Todos estavam chateados com a situação quando ela teve a idéia de ir ao batalhão pedir um revólver emprestado. “A princípio, o policial achou o pedido estranho, mas acabou emprestando o revólver. Nada que uma conversa não resolva”, explica.
Terceiro Ato – Resolução
A primeira experiência de Amélia com audiovisual foi difícil, mas permitiu que ela conhecesse as dificuldades de filmar em Manaus. “Os recursos são pequenos e os profissionais escassos”, desabafa Amélia. Entretanto, os inúmeros contratempos não a desanimaram. Questionada pela reportagem se, em algum momento pensou em desistir de filmar, ela foi enfática: “Isso não. Os amigos que me ajudaram foram dedicados trabalhando de graça, inclusive de madrugada. Pedi a casa de cinema para não exibirem o filme, pois gostaria de refazê-lo”, revelou.
Por causa do “Parecença”, Amélia quase foi demitida. Depois de três dias consecutivos faltando ao trabalho, a ameaça do patrão veio acompanhada de um ultimato: mais uma falta e está demitida! – A escolha não foi difícil considerando que, financeiramente, o ganho com o filme foi zero. “Um artista precisa comer, vestir. Pelo menos não perdi o emprego”, expõe.
É a atriz protagonista que quebra o pé minutos antes de filmar, é o patrocinador que morre antes de pagar a cota de patrocínio, é o entrevistado do documentário que exige uns trocados para falar. Enfim, ousar fazer cinema no Amazonas é se entregar a uma aventura imprevisível e, por vezes, hilariante.
domingo, 16 de março de 2008
Por amor à Amazônia, por amor à vida
Por Joanne Régis
“Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira. Fica decretado... que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança”. A poesia de Thiago de Melo descreve bem a história e os sonhos da ecóloga Elisa Wandelli. Pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental, ambientalista, professora, membro da equipe de Philip Fearnside e filha adotiva do Amazonas, Ela tem dedicado sua vida à causa ecológica. Nascida em Santa Catarina, Elisa vive em Manaus há 24 anos, tem três filhos caboclos e vê na luta pela natureza a expressão de amor pela humanidade.
Segundo a pesquisadora, para que as próximas gerações usufruam da natureza, “um novo paradigma tem que ser assumido, uma substituição radical das estruturas sociais e materiais existentes em nossa sociedade extremamente consumista”, afirma. Se de um lado a concentração de renda é um dos fatores agravantes dos problemas ambientais e sociais, por outro, o planeta não se sustentará se toda a humanidade adotar os padrões atuais de consumo.
Atualmente, Elisa está em fase final do doutorado em Ecologia pelo Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), abordando aspectos ligados ao uso da terra em comunidades rurais e sua relação com as mudanças climáticas globais. Também tem estudado alternativas agroecológicas sustentáveis para que as comunidades rurais possam preservar os serviços ambientais e, ao mesmo tempo, melhorar sua renda e qualidade de vida.
Em sua tese, Elisa está avaliando o desmatamento do Assentamento Tarumã-Mirim e o seqüestro de carbono dos diferentes sistemas de uso da terra adotados pelas comunidades. Elisa está propondo uma metodologia de monitoramento de seqüestro de carbono que as próprias comunidades poderão utilizar para valorar e obter retorno econômico por seus serviços ambientais. Procurando entender as causas do desmatamento, propõe alternativas e futuros cenários onde o desmatamento e a emissão de gases de efeito estufa são minimizados, resultado do pagamento dos serviços ambientais e da maior eficiência e produtividade das culturas agrícolas.
Seu trabalho de pesquisa é acompanhado de uma preocupação de fornecer retorno para a comunidade através de troca de saberes, cursos, oficinas e implantação de sistemas agroecológicos demonstrativos. A região do Tarumã-Mirim, além da relevância para o turismo ecológico, tem influência crucial na qualidade da água que abastece Manaus, pois os igarapés Tarumã-Mirim e Tarumã-Açu, que drenam todo o assentamento deságuam a montante da cidade. Se a taxa de desmatamento e o mau uso da terra continuar nas condições atuais, a qualidade de vida e a vocação turística das comunidades assentadas e de Manaus irão diminuir.
Por que escolheu a Amazônia para viver?
Aos dezesseis anos já havia tomado a ingênua decisão que estudaria e trabalharia na Amazônia. Ainda fiz pouco do que sonhei e sonho, mas minha dívida fica cada vez maior com a Amazônia, por tudo que ela tem me ensinado. Presunçosamente já me considero “baré” porque adoro todos os hábitos e conhecimentos tradicionais. Quando vou visitar meus pais, em minha outra terra (Florianópolis) tento também fazer algumas ações ambientais para não ficar com a consciência muito pesada de ver todos os recursos naturais da ilha sendo deteriorados tão rapidamente.
Em que o Brasil errou ou tem errado em relação à Amazônia?
Faltam políticas públicas mais eficazes para que o amazônida possa utilizar, sustentavelmente, os recursos naturais. A principal falha é o pouco empenho na capacitação para a sustentabilidade em todos os níveis, no técnico, na graduação, na assistência técnica, na educação formal e informal, e principalmente, na educação básica rural que não são voltadas para as realidades amazônicas. Os governos federais e estaduais também têm errado na aprovação de projetos de grande impacto sem que haja uma governabilidade suficiente para minimizar os efeitos negativos como a BR-163, a BR- 319, a hidrelétrica do Madeira e a desnecessária ponte sobre o Rio Negro.
Qual sua opinião sobre o Bolsa Floresta?
É o primeiro avanço para a concretização do sonho de vermos as comunidades amazônicas que preservam a floresta ter compensação pelos serviços ambientais que prestam à humanidade. No entanto, considero que o Bolsa Floresta deve ser ampliado não só para outras Unidades de Conservação (UC), mas principalmente para as famílias rurais que não vivem em UCs, como os assentados da reforma agrária que paralisaram o desmatamento de suas florestas ou reflorestaram suas reservas legais. Para que isso ocorra, o uso da terra pelas famílias teria que ser monitorado e, principalmente, teria que haver um grande programa de capacitação e extensão rural para que as famílias sejam capacitadas a manejar os recursos florestais e manter a floresta em pé.
Mesmo preservando a Amazônia, o aquecimento global vai ocasionar impactos para a região?
Sim, apesar de a Amazônia influenciar o clima global devido sua grande biomassa vegetal permitir um grande estoque de carbono e grande troca de gases, água e energia com a atmosfera planetária, ela também é influenciada por outros componentes atmosféricos e bióticos do planeta, como a temperatura das águas do Oceano Pacífico. O aumento da temperatura e a provável diminuição do regime de chuvas na região provocada pelo aquecimento global savanizariam a floresta amazônica, ou seja, haveria um ressecamento da floresta e o domínio de espécies vegetais tolerantes ao estresse hídrico e de menor porte, em substituição à vegetação tropical úmida atual.
Quais seriam as alternativas para o desenvolvimento da Amazônia com menores impactos ambientais?
Temos trabalhado na Embrapa com sistemas agroflorestais que é um uso da terra dominado por árvores com uma série de práticas agroecológicas que permitem a recuperação de áreas degradadas e o uso permanente da terra, sem a necessidade de novos desmatamentos. Trabalhamos também com alternativas para transformar as capoeiras em áreas agrícolas sem precisar queimá-las. Todas são práticas que somam os saberes tradicionais com a ciência. Porém, estas práticas precisam ser acompanhadas de assistência técnica, organização comunitária e todas as políticas públicas necessárias para a comercialização e capacitação comunitária.
Qual sua opinião sobre os resultados da Conferência do Clima de Bali?
A reunião da ONU sobre mudança climática apresentou avanços, sendo que para os ambientalistas o maior ganho foi a aprovação de um artigo que possibilita o aproveitamento de mecanismos de mercado para recompensar reduções de emissões por desmatamento e degradação em florestas de países em desenvolvimento.
É uma maior possibilidade de termos mercado para o pagamento de seqüestro de carbono ocasionado pelo “desmatamento evitado” e esta é a oportunidade que faltava aos pequenos agricultores dos países em desenvolvimento de serem recompensados pelos serviços ambientais que prestam. O acordo anterior só permitia participar do mercado oficial de carbono aquele seqüestrado por florestas plantadas em áreas desmatadas antes de 1990. Este condicionante beneficiava mais latifundiários, já que comunidades rurais tinham maior vocação para estocar carbono nas florestas de suas reservas legais do que em florestas plantadas.
O encontro foi feliz também porque, finalmente, os Estados Unidos cederam à pressão do mundo todo e aceitaram o acordo. No entanto, as metas estabelecidas de redução de emissões são muito inferiores ao que a ciência exige para reverter a tendência climática mundial e garantir que a humanidade possa viver com qualidade. A meta de desmatamento estabelecida pelo Brasil de 19 mil quilômetros quadrados ao ano é um patamar muito alto não condizente com o exemplo que o mundo precisa ter do país detentor do maior estoque de carbono florestal do planeta. Cidadãos do mundo deverão fazer e exigir de seus governantes muito mais do que o Protocolo de Kyoto estabelece se quiserem reverter a tendência de mudanças climáticas do planeta. Não temos tempo a perder. É fundamental trocar a matriz energética para reverter as mudanças climáticas, mas me preocupo com o risco que a humanidade sofre por utilizar terras férteis para a produção de energia, como o biocombústivel e não para resolver o problema da fome no mundo.
Você é uma pessoa contestadora, faz denúncias, participa de debates. Qual sua maior decepção na sua luta pelo respeito à natureza?
Fico muito frustrada com o desmatamento da floresta, por não trazer compensações sociais aos amazônidas e provocar impactos a nível local e global. É muito triste ver o homem do interior vir para as cidades e morar em condições ambientais completamente degradadas sem nem ter consciência de suas perdas e misérias, pois a vida urbana é o ideal para uma sociedade onde o rural, o florestal e o indígena não são valorizados. O aterramento dos igarapés de Manaus também me chocou bastante, senti que a infância de todos foi apagada da memória. Mas fico mais decepcionada ainda quando os órgãos ambientais oficiais e até a Justiça Estadual não atendem o clamor comunitário em prol do meio ambiente e se posicionam a favor dos empresários que provocam os danos ambientais. Mesmo assim, continuo com a esperança de que a ética, o amor pela natureza e pela vida vai prevalecer em todos nós.
Procon/Am orienta público no Shopping Grande Circular
Para Guilherme Frederico, isso é reflexo de que a população está mais atenta quanto aos seus direitos. “O setor bancário é o que mais tem incomodado o consumidor com relação às filas”, revelou o diretor do Procon/Am.
De acordo com o gerente de administração e transporte do Ipem José Itamar, A finalidade do órgão não é punir, mas tornar a relação entre consumidor e fabricante mais justa. Entretanto, depois de constatada a irregularidade no peso ou na medida dos produtos, o Ipem dá um prazo de 15 dias para que o fabricante se readequar. A persistência ocasiona multas superiores a R$ 3 mil.
Fundação Cláudio Santoro encerra inscrições para cursos artísticos nesta quarta-feira
As inscrições podem ser feitas no Bloco F do Sambódromo, localizado na Avenida Pedro Teixeira, bairro Dom Pedro. Para se inscrever, o candidato deve levar 1 foto 3X4, cópia do RG, Certidão de Nascimento e CPF, Cópia do comprovante de residência, declaração de matrícula da escola ou certificado de conclusão. Se o candidato for menor de idade acompanhado do responsável, deve levar a cópia do CPF e identidade do responsável.
O atendimento é feito das 8h às 17h. O telefone para contato e outras informações é o 32322440 e o 32321950 (ramal 29).
Concurso público do Tribunal de Contas do Amazonas oferece 100 vagas
Dia 31 de março começam as inscrições para o concurso público do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas.
A taxa de inscrição do concurso custa R$ 63,40 para o cargo de Ensino Médio e R$ 83,40 para os de Ensino Superior.
Para o nível médio são oferecidas 30 vagas na função de Assistente de Controle Externo. Para o nível superior há vagas para os cargos de Analista Técnico de Controle Externo – Auditoria Governamental, Analista Técnico de Controle Externo - Auditoria de Obras Públicas e Analista Técnico de Controle Externo - Tecnologia da Informação.
Para a função de Analista Técnico de Controle Externo – Auditoria Governamental o candidato pode ter qualquer formação superior. Para ser Analista Técnico de Controle Externo – Auditor de Obras Públicas, o candidato precisa ser formado em Engenharia civil ou Arquitetura. Para Analista Técnico de Controle Externo – Tecnologia da Informação, o candidato à vaga pode ser formado em qualquer área de informática.
As inscrições podem ser feitas nas agências da Caixa Econômica Federal da Rua Leonardo Malcher, Jose Clemente e Barroso, todas no Centro da cidade ou ainda, através do site: www.concursosfcc.com.br onde se imprime o boleto bancário para pagamento da taxa de inscrição.
As inscrições para o concurso terminam no dia 09 de abril e as provas acontecem no dia 18 de maio. O concurso tem validade de 2 anos, podendo ser prorrogado por mais 2 anos, a critério do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas.Outras informações no site: www.tce.am.gov.br
sexta-feira, 14 de março de 2008
Detentas vendem Ovos de Páscoa na SEFAZ
O curso de ovos de chocolate acontece há dez anos na Penitenciária Feminina e, esse ano, foi oferecido a partir da parceria entre a Gerência de Reintegração Social e Capacitação (GRSC), da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejus) e o Serviço Nacional do Comércio (Senac).
A interna do regime semi-aberto Marília Santos, 23, já participou dos cursos de produção de árvores de natal, artesanato, biscuit, cabeleireiro, manicure e, atualmente, além de trabalhar na produção dos ovos de páscoa, corta o cabelo das colegas internas exercitando a função que pretende assumir quando sair da prisão daqui a sete anos. Ela falou sobre a importância do aprendizado na cadeia porque conhece casos de ex-detentas que ganham dinheiro exercendo as atividades aprendidas nos cursos. Marília disse que antes de ser presa nunca tinha feito curso profissionalizante.
A funcionária da Sejus responsável pela produção dos Ovos de Páscoa Maria Lucinilda Silva Arruda ressaltou a importância do evento para as internas porque ele é resultado do aprendizado e do trabalho delas que podem vislumbrar uma possibilidade de atuação profissional quando saírem da Penitenciária.
As internas que fazem trabalhos dentro da Penitenciária recebem 30% do salário mínimo e, a cada três dias trabalhados, reduzem um dia da duração da pena. O dinheiro arrecadado vai ser utilizado para a manutenção da produção dos ovos de chocolate que vai até a semana da páscoa.
quinta-feira, 13 de março de 2008
Jogo de Interesses
Os meios de comunicação e consequentemente os profissionais neles atuantes conquistaram ao decorrer dos anos credibilidade junto ao público. Considerados pela maior parte da população como veículos criados para informar e entreter tornaram-se as principais fontes de informação. Mas, até que ponto as informações veiculadas pela TV, rádio, internet e jornal impresso condizem com a realidade?
Diferente do que muitos pensam as empresas de comunicação não fogem ao modelo capitalista de atuação. Infelizmente o lucro é posto em primeiro lugar vindo apenas depois o compromisso com o receptor. Cada empresa estabelece previamente um regulamento a ser seguido pelos seus funcionários, no qual apenas o que é de interesse político, religioso, social e econômico da empresa é permitido, estando sujeito a penalidades e até mesmo demissão o profissional que descumprir as exigências.
Todos os dias lendo o jornal ou assistindo TV nos deparamos com notícias tendenciosas e apelativas. A mídia definitivamente perdeu o limite entre o compromisso com a informação e a exploração das mazelas alheias. Recentemente a morte de um garoto de 6 anos de idade foi transformada pela mídia em “espetáculo”. Não que divulgar a maneira brutal como o garoto teve sua vida tirada, ou remeter a sociedade a uma reflexão sobre uma possível revisão da idade penal seja crime. O que está sendo levantado é a forma como a mídia encara e se aproveita do sofrimento e do desespero das famílias atingidas por tragédias.
O público envolvido pelo sensacionalismo com que o fato é explorado acaba por aceitar e aplaudir a atitude da mídia. Cria-se a ilusão de que a intensificação da veiculação do mesmo assunto se faz para alertar, para não deixar que a sociedade esqueça. É claro que os receptores têm a capacidade de discernir (pelo menos os de nível de escolaridade mais elevado) a verdade da farsa, porém a partir do momento que o lado sentimental do público é tocado, a razão dá lugar ao sentimentalismo. Através desse jogo de manipulação as empresas não precisam omitir fatos, basta apenas que a notícia seja contada por um ângulo conveniente.
quarta-feira, 12 de março de 2008
Crise na América do Sul revela interesses políticos e econômicos de nações estrangeiras
O histérico pedido do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, de que o presidente venezuelano Hugo Chávez seja indiciado a um júri internacional por supostos crimes de colaboração com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) parece nada mais que uma cortina de fumaça para desviar a atenção do mundo e, principalmente, da Organização dos Estados Americanos (OEA), do crime de violação internacional de soberania cometida contra o Equador, quando o exército colombiano invadiu o espaço aéreo equatoriano para atacar bases das Farc instaladas naquele país.
Contudo, o intento de Uribe parece não ter funcionado como ele gostaria, já que a OEA e a maioria dos países sul-americanos com grande poder diplomático no continente, como Brasil e Argentina, não aceitaram a “desculpa” usada pela Colômbia para transpor-se além de seu espaço aéreo e exigiram uma ação séria contra o governo de Uribe, que se contentou com um infame pedido público de desculpas ao Equador. Obviamente, o maior interessado neste desentendimento internacional – o governo Bush – já se mostrou ao lado do governo direitista de Uribe, que todos sabem receber milhões de dólares dos ianques para supostamente “combater a ameaça terrorista” das Farc. Como mostram os últimos acontecimentos, de nada parece adiantar os repasses milionários.
Percebe-se, no entanto, que as tais intenções colombianas de dar fim aos crimes cometidos pelos narco-guerrilheiros são um tanto controversas. Qual a razão por trás de tal ataque contra as Farc em território equatoriano? Por que fazer isso justamente quando a guerrilha se mostra mais suscetível em negociar a libertação de reféns que permaneceram por tanto tempo em suas mãos? A resposta não é simples, mas algumas suposições e teorias no mínimo interessantes podem ser levantadas.
É sabido que, até o momento, as negociações com as Farc para a libertação de reféns têm sido lideradas por Chávez, o que não agrada nem um pouco a Uribe e muito menos aos EUA. Resultado: a Colômbia (sic, os EUA) tornou (aram) públicas supostas provas do envolvimento da Venezuela e do Equador com a guerrilha. De acordo com tais provas, supostamente encontradas em poder dos guerrilheiros mortos da ação do último sábado (1º) em território equatoriano, os líderes máximos das Farc se reuniram inúmeras vezes com representantes dos governos venezuelano e equatoriano para tratar sobre envio de armas e munições. Trata-se de acusações sérias contra a estabilidade política latino-americana, o que deve ser investigado com cuidado e não proferido com histerismo, como tem feito Uribe.
Paralelamente, o Senado brasileiro, por meio dos porta-vozes neoliberais e de discurso afinado com os interesses estrangeiros, como o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), tem cobrado uma posição “mais rígida” de Lula diante da crise. Em outras palavras, o que Virgílio quer é que o Brasil se ponha ao lado de Uribe (e ao lado do EUA), contra o Equador e, sobretudo, contra o “coronel” Chávez, termo usado pelo líder tucano no Senado – e tudo isso sob a velha bandeira do combate ao terrorismo e da ameaça das Farc na América-Latina.
Como se não bastasse a postura ignorante e irresponsável solicitada por esta ala estúpida do Senado, Virgílio ainda faz questão de “por lenha na fogueira”, reafirmando as oportunas acusações da entidade internacional financiada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a World Check (http://www.world-check.com), que cita – sem revelar provas contundentes – o Brasil como sendo um dos fornecedores de armas e munições às Farc, ao, lado de Equador e Venezuela. Tal acusação, no entanto, foi categoricamente negada pelo ministro da Defesa, Nelsom Jobim.
Em passagem por Manaus, Rafael Correa responde à crise
Em sua rápida passagem à cidade de Manaus (AM) após a visita de agradecimento ao presidente Lula, em Brasília, o chefe de estado equatoriano, Rafael Correa, destacou a importância da mediação da crise por parte da OEA e afirma ter sido enganado pelo presidente da Colômbia, Álvaro Uribe.
“Só há duas opções para que o Equador seja reconfortado pela crise ocorrida. A primeira é uma punição contundente contra a Colômbia e um pedido de desculpas sem trapaças. A outra é um compromisso formal da Colômbia em não mais agredir qualquer país da região”, afirmou o presidente à repórter Daniella Assayag do Jornal do Amazonas (TV Amazonas). Correa também disse que a invasão de fronteira poderia ter ocorrido em qualquer país sul-americano, já que as Farc possuem bases em diversos países da região.
Já o comandante do Comando Militar da Amazônia (CMA), general Heleno, garante que as fronteiras do Brasil estão protegidas contra quaisquer investidas estrangeiras. “Esta crise deve servir de alerta para nosso país”, afirmou.
É o que todos esperamos.
Artigo publicado originalmente no Blog do Bentes
segunda-feira, 10 de março de 2008
A solidariedade que transforma
Annyelle Bezerra
Josiane Rodrigues Fidêncio, 21, natural de Penápolis (distante 480 Km de São Paulo), viveu desde os 14 anos em um abrigo para menores. Junto com seus três irmãos, ela foi obrigada a enfrentar a dura realidade de viver longe do aconchego familiar, após a prisão da mãe. Sua passagem pela primeira instituição - ADI Raio de Luz - foi marcada por muita revolta e dificuldade de adaptação.
Somente aos 18 anos, quando foi transferida para a Associação Alpha e Õmega, experimentou novamente a alegria de ter um lar. Indagada sobre o novo sentido que a instituição deu à sua vida, Josiane afirma: “lá, pude perceber que o meu problema não era maior que o de outras crianças que sofrem e precisam de ajuda. Isso despertou no meu coração o desejo de ajudá-las, transformando sofrimento em alegria”.
Hoje, Josiane trabalha como voluntária na Associação Alpha e Ômega, que há três anos está instalada no município de Iranduba (distante 22 km de Manaus). Esta é apenas uma dentre as milhares de histórias de vida de pessoas que têm sua infância marcada por episódios de abandono e tragédia familiar.
Idealizada pelo Pastor Odali Barros, da Igreja Tabernáculo Batista, a Associação Alpha e Ômega foi fundada em 1997, na cidade de Garça, interior de São Paulo.
Tudo começou com um trabalho voltado para evangelização de crianças carentes. Quando o grupo atingiu o número de 14 crianças, houve necessidade de ter um local para abrigá-las. Com ajuda de um juiz da cidade, Odali conseguiu regularizar a situação de um prédio abandonado, utilizando-o como primeira sede da entidade.
No inicio, o trabalho evangelístico era realizado pelo pastor e sua esposa. Mas, atualmente, a evangelização é desenvolvida pelas próprias crianças e adolescentes que vivem no lar. Esse trabalho deu tão certo que a associação possui agora três representações, uma no Amazonas, uma no Paraná, em Alvorada do Sul, e outra em São Paulo, em Garça, tendo, ainda, um projeto de associação em Foz do Iguaçu, Paraná.
No Amazonas desde 2004, a associação é responsável por abrigar 18 crianças do município de Iranduba e de outras localidades, encaminhadas pelo Conselho Tutelar, Ministério Público e Assistência Social. Geralmente as crianças são afastadas provisoriamente do convívio familiar quando comprovado abandono ou maus-tratros. Inicialmente, elas ficam aguardando a reabilitação da família. Quando não apresentadas condições de recebê-las de volta, cabe ao Conselho Tutelar decidir sobre o destino do menor, que na maioria das vezes é disponibilizado para adoção.
Por se tratar de uma Organização Não-Governamental (ONG), a Associação Alpha e Ômega não recebe recursos do Estado. A unidade de Iranduba é mantida por doações de igrejas evangélicas, pessoas físicas e instituições privadas. Quanto à estrutura física, a situação é precária. Não existem dormitórios separados para meninos e meninas. Os dois prédios existentes são ao mesmo tempo, dormitório, refeitório e sala de lazer. Faltam recursos financeiros e humanos para o desenvolvimento de projetos que permitam uma melhor qualidade de vida para as crianças e adolescentes que ali residem.
A unidade instalada no Amazonas conta com o trabalho voluntário de apenas dois casais paulistas, que inclusive passaram parte de suas vidas como internos na unidade de Garça. Mesmo com toda dedicação, eles não conseguem cuidar de maneira eficiente de todas as crianças. Atualmente as que estão em idade escolar freqüentam as escolas da rede municipal de ensino e não desenvolvem outras atividades sócio-recreativas. Eventualmente recebem visitas de membros de igrejas evangélicas que realizam atividades evangelísticas.
A falta de divulgação e mesmo a localização dificultam a captação de novos voluntários e recursos para o desenvolvimento de projetos dentro da unidade. Embora os recursos não sejam abundantes, a instituição sobrevive. Não descartando a colaboração daqueles que se sentem tocados com a situação das crianças e adolescentes abrigadas. Sugestões, idéias ou mesmo um pequeno gesto de atenção fazem muita diferença na vida dessas pessoas. “Meu projeto é construírmos mais duas casas para abrigar mais crianças, pois tenho certeza que quanto mais espaço tivermos, mais crianças poderemos ajudar”, almeja Josiane. A instituição disponibiliza para contatos e mais informações os seguintes telefones: (092) 9145 - 7059 ou 9197 - 0464.
sexta-feira, 7 de março de 2008
O sono é uma arma contra a obesidade
O artigo completo pode ser lido no site www.nature.com/oby
Fonte: Agência Fapesp
1º MIAU encerra inscrições no dia 15 de março
Podem participar trabalhos com duração máxima de 20 minutos e lançados a partir de 2006.
quinta-feira, 6 de março de 2008
Praia da Ponta Negra
A Professora Esquentada
Correio Amazonense, sexta-feira, 19 de Maio de 2006
É muito comum hoje em dia você ouvir aquela frase ‘’onde vamos parar?!’’ Ou ‘’o que mais falta acontecer neste país?!’’ Já lemos ou assistimos jornal com a consciência de que um absurdo vai ser noticiado naquele dia, a maioria sobre política ou violência. Mas às vezes somos surpreendidos com notícias tão absurdas que baixamos as nossas cabeças e ficamos em dúvida se choramos ou rimos.
Escrito por Luiz Guilherme em 27 de Maio de 2006
Carta ao amigo estrangeiro
Querido amigo,
Muito me entristeceu o fato de você ter se desinteressado em vir passear no Brasil, ainda mais, de ter descartado a hipótese de morar aqui. Já estava elaborando nosso roteiro turístico e procurava um apartamento para você.
Infelizmente, todos os acontecimentos que você apresentou para não vir ao meu país são verdadeiros e preocupam nossa sociedade.O Brasil é um país cuja história é marcada pela exploração de nosso povo e de nossas riquezas. Atravessamos duas décadas com uma ditadura militar que vedou o desenvolvimento de vários setores. Além disso, apesar de termos superado a ditadura, a prática viciosa de legislar em causa própria ainda é um dos princípios que norteiam nossos governantes.
Como sabes, a elite econômica, seja no Brasil ou em qualquer outro país, interessa-se apenas no lucro. E se o lucro advém da exploração do povo, isso vai ser feito. Hoje, definitivamente, o Brasil não é um país de todos, mas acreditamos que um dia ele pode ser e é por isso que lutamos.
Os veículos de comunicação, quase sempre, são empresas de caráter privado e possuem interesses que nem sempre estão em concordância com o do povo. Portanto, se o partido que está no poder não faz parte da patota do dono do jornal, a crítica aos problemas sociais é feroz.
Não quero dizer que não atravessamos por estes problemas, mas quero alertar que eles são instrumentos de manipulação de interesses.
E nesse jogo sujo de interesses escusos, a miséria e a falta de informação do povo são joguetes da elite econômica e política em prol da perpetuação da estratificação social.
Apesar de tudo, nosso país tem melhorado. É verdade que algumas escolas brasileiras enfrentam problemas de ordem estrutural, mas, felizmente percebemos a importância da educação e o número de pessoas que cursam ensino superior saltou de 2% para 5%. Número singelo, mas é um crescimento agradável.
O Brasil é um país moderno e atravessa questões que tem preocupado o mundo inteiro: o lixo das grandes cidades; a devastação ambiental e as doenças advindas disso; e agora o aquecimento global.
Apesar de todos estes problemas é muito bom viver aqui. Pela natureza, pela simpatia do povo, pela cachaça, pelo futebol, pelo carnaval e pela mulata.Felicitações!
Escrito por Tabajara Moreno
Começo
O Blog é o resultado de inúmeras discussões sobre a necessidade de começarmos a escrever, haja vista sermos universitários ávidos por experiência.Foi um parto! A turma de jornalismo do Uninorte já havia discutido a possibilidade de criar um jornal informativo semanal, quinzenal ou mensal, mas, apesar das inúmeras conversas, nada saiu do campo das idéias. Já havíamos pensado em tudo: site, jornal e revista. Mas nos faltava o que é fundamental a quem pretende construir e conquistar qualquer coisa: Iniciativa.Discutir e amadurecer idéias é fundamental em tudo, entretanto, não se deve ignorar a coragem e a iniciativa de colocá-las em prática.
Boa sorte!Boas Postagens!
Saudações!Tabajara Moreno e Luiz Guilherme (administradores)